Durante o ensino fundamental, escolhi a ginástica rítmica, “uma ramificação da ginástica que possui infinitas possibilidades de movimentos corporais combinados aos elementos de balé e dança teatral, realizados em harmonia com a música e coordenados com o manejo dos aparelhos próprios desta modalidade olímpica, que são a corda, o arco, a bola, as maças e a fita” , dentre as muitas opções oferecidas como Educação Física. Recordo meu fascínio pela manipulação dos aparelhos (especialmente a bola, o arco e a fita) e o meu deleite em criar minhas seqüências solísticas. Hoje me parece incrível lembrar como era capaz de ficar horas absorta na experimentação de movimentos e na montagem das minhas seqüências solo e as memorizava sem nenhum grande esforço.
Não saberia precisar quando nem porque perdi totalmente a motivação para a dança solística e, racionalmente falando, a capacidade de memorizar seqüências de movimentos. Tais obstáculos têm persistido nos meus processos de criação em dança e, me “paralisando”, de certa forma, enquanto intérprete-criadora. Refletindo sobre este sentimento me lembrei do filme “O Escafandro e A Borboleta”, onde Jean-Dominique Bauby, acometido pela síndrome de Locked-in (que paralisa praticamente todos os músculos voluntários do corpo, mas preserva a atividade intelectual e emocional), utiliza o escafandro, antigo traje de mergulho feito de ferro e borracha, como metáfora da sua angustiante imobilidade. Guardando as devidas proporções, compartilho com ele a angústia de não conseguir me desafiar como gostaria, pois só eu sei o quanto me custa tentar (embora possa parecer, para quem está de fora, que eu não esteja sequer tentando). Mas Jean-Dominique também tinha suas borboletas: sua imaginação, que ele referia como a “a única forma de escapar ao escanfandro”. 
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