14 de dezembro de 2011

ESTUDOS DOS PROCESSOS CRIATIVOS II: refletindo sobre escafandros e borboletas

Durante o ensino fundamental, escolhi a ginástica rítmica, “uma ramificação da ginástica que possui infinitas possibilidades de movimentos corporais combinados aos elementos de balé e dança teatral, realizados em harmonia com a música e coordenados com o manejo dos aparelhos próprios desta modalidade olímpica, que são a corda, o arco, a bola, as maças e a fita , dentre as muitas opções oferecidas como Educação Física. Recordo meu fascínio pela manipulação dos aparelhos (especialmente a bola, o arco e a fita) e o meu deleite em criar minhas seqüências solísticas. Hoje me parece incrível lembrar como era capaz de ficar horas absorta na experimentação de movimentos e na montagem das minhas seqüências solo e as memorizava sem nenhum grande esforço.

Não saberia precisar quando nem porque perdi totalmente a motivação para a dança solística e, racionalmente falando, a capacidade de memorizar seqüências de movimentos. Tais obstáculos têm persistido nos meus processos de criação em dança e, me “paralisando”, de certa forma, enquanto intérprete-criadora. Refletindo sobre este sentimento me lembrei do filme “O Escafandro e A Borboleta”, onde Jean-Dominique Bauby, acometido pela síndrome de Locked-in (que paralisa praticamente todos os músculos voluntários do corpo, mas preserva a atividade intelectual e emocional), utiliza o escafandro, antigo traje de mergulho feito de ferro e borracha, como metáfora da sua angustiante imobilidade. Guardando as devidas proporções, compartilho com ele a angústia de não conseguir me desafiar como gostaria, pois só eu sei o quanto me custa tentar (embora possa parecer, para quem está de fora, que eu não esteja sequer tentando). Mas Jean-Dominique também tinha suas borboletas: sua imaginação, que ele referia como a “a única forma de escapar ao escanfandro”.
Neste semestre a improvisação como eixo condutor da criação em dança em EPC II foram as borboletas que, de certa forma, me libertaram do “peso” de decorar seqüências me deixando mas tranqüila para experimentar. Hystos significou para mim um paradoxo de prazer e angustia. Se por um lado a proposta d coloridas borboletas, a opção por desenvolver solos, ainda que coletivamente integrados, imobilizou-me com o escafandro da desmotivação. Ao final deste semestre pergunto a mim mesma quantas borboletas serão necessárias para arrancar-me o escafandro, resgatando o prazer e a empolgação de dançar comigo mesma que conheci há vinte e três anos atrás...e trabalhar com improvisação tanto durante a criação quanto na execução da cena me ofereceu
Apresentação do trabalho apresentado para avaliação da disciplina Estudos dos Processos Criativos II, sob orientação das professoras Patrícia Leal e Martha Saback em 2011-2

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