21 de dezembro de 2010

HIZAM

Este foi um 56 videos sugeridos pelos professores de EPC IV que falei no texto anterior. Pretendo postar aqueles que me despertaram um interesse especial, e tentar explicitar o quê neles me chamou a atenção.

Não consegui mais informações sobre esse vídeo na internet. Sei apenas que este trecho foi apresentado no Teatro de Chaville, na França. A técnica usada é a improvisação por contato, mas não poderia afirmar se há improvisação foi utilizada no processo de investigação ou também durante a apresentação no Teatro. Amo improvisação por contato como método investigativo em dança. Neste trabalho pode-se observar a predominância da ação “rolar”. Os movimentos são lentos, suaves e contínuos, com alguns momentos estáticos onde a dupla encontra pontos de equilíbrio.

2010-2: Avaliando o meu primeiro semestre como aluna regular

No segundo semestre de 2010, como já estava participando das oficinas de criação de figurino e criação de trilha sonora até outubro, resolvi cursar apenas duas disciplinas: Estudos Críticos Analíticos IV (ECA IV) e Estudos dos Processos Criativos IV (EPC IV). Apesar de estar inserida na Escola de Dança como aluna especial desde 2007, este foram os primeiros dos quatro componentes dos respectivos módulos. Do jeito que vai, estarei cursando os componentes do primeiro semestre quando for concluinte! Até então, não vejo problema nenhum que seja assim.

Como nos semestres anteriores, o time de professores contou muito para a minha escolha. À frente de ECA IV estava Fernando Passos, meu professor durante 2009, e Lúcia Matos, da qual apenas tinha ouvido falar em termos de competência e exigência. Já em EPC IV foi Sérgio Souto quem determinou minha escolha, pois tenho especial interesse nos conteúdos musicais que já sabia serem a sua especificidade. Aroldo Fernandes eu não conhecia e qual não foi minha surpresa ao ganhar David Iannitelli de “brinde”, posto que até o momento da matrícula ele não estava previsto como professor da turma. Tenho grande afinidade pelas pesquisas de David, além de admirar sua dedicação para com os alunos e para com a Escola. Em 2008 tive a feliz oportunidade de fazer parte de um grupo de estudos sobre improvisação por contato nas danças de salão com ele, e para mim foi muito produtivo.

Minhas Expectativas

ECA IV transcorreu dentro das minhas expectativas, embora tenha sido muito prejudicada devido aos feriados e “enforcados” deste semestre. Dessa forma, o tempo teve que ser otimizado para abordar o conteúdo proposto: tivemos discussões sobre etnografia e prática artística, leitura e discussão de três textos (grandes e densos), exercícios individuais e coletivos e apreciação de registro em vídeo de algumas obras de dança. Essa foi minha principal insatisfação, já que estava ávida principalmente por esta atividade. A dupla Lúcia e Fernandinho, pessoas tão diferentes conseguiram equilibrar suas qualidades.

Minha expectativa geral para EPC IV foi a de um lugar para experimentações de composição em dança de uma forma ampla, ou seja, que contemplasse não só o estudo de movimento e espaço, como também pensar e experimentar seus diversos elementos cênicos, como iluminação, cenografia, trilha sonora, maquiagem, figurino, dentre outros. Entrei disposta a experimentar, sem direcionamento em nenhum projeto específico.

Se ECA IV foi marcada pela racionalização dos conteúdos, EPC IV aconteceu um verdadeiro dilúvio! O trio harmonioso e animado trio Sérgio-Aroldo-David não economizou na hora de oferecer opções para investigações corporais, usando a diversidade de seus conhecimentos específicos para multiplicar a oferta de pontos de partida que em determinado momento me deixou desnorteada por achar que eu deveria acumular todas as experiências numa mesma coreografia.

Foram disponibilizados 13 textos para leitura (dos quais li até hoje oito) e 56 links do youtube (dos quais assisti 30 até hoje), fora os vídeos vistos em sala de aula. Além disso, tivemos informações sobre iluminação cênica, maquiagem artística e um bate-papo sobre criação de figurino com meu muito querido Miguel Carvalho.

Todos as atividades propostas foram pertinentes e interessantes para mim. Lamento a crise que se abateu no meu grupo inicial, e que me levou a preferir me engajar no solo da colega Lucimar, colaborando na criação de luz, figurino, maquiagem e trilha sonora, áreas nas quais participei de oficinas durante este ano e que acredito que venha a ser uma boa oportunidade de por em prática os conhecimentos adquiridos.

Enfim, mais um semestre que termino cansada mas satisfeita!

8 de dezembro de 2010

Análise crítica do vídeo dança FF►►

Idealizado por Letícia Nabuco e Tatiana Gentile, FF►► foi um dos cinco vídeo danças selecionados na edição 2006-2007 do programa Rumos Itaú Cultural Dança Cultural. Através de uma seqüência de movimentos contínuos e lentos no nível baixo,os intérpretes Letícia Nabuco e Marcello Stroppa mantêm a mesma direção e velocidade e ao som de um tema de jazz vão “avançando” por diversos ambientes urbanos da capital carioca, construindo uma relação espaço-temporal ao mesmo tempo dinâmica e lenta, situação somente possível dentro da realidade virtual deste tipo de obra tecnológica.

Os dançarinos utilizam na sua composição coreográfica as mesmas ações básicas de engatinhar, rolar, agachar, deslizar, levantar e abaixar, porém executadas de formas e combinações diferentes. As especificidades dos ambientes onde a dança acontece determina pequenas variações na ordem e duração dos movimentos de ambas das seqüências. E dessa forma, em aproximadamente seis minutos, os dançarinos “avançam” diferentes locais de passagem da cidade do Rio de Janeiro, como ruas, viadutos, praias, praças, lanchonetes, floriculturas e parques.

FF►► parece propor reflexões sobre a relação espaço-temporal entre corpo e ambiente urbano. Os movimentos lentos e contínuos dos dançarinos contrastam com os ambientes por onde eles passam cujos obstáculos parecem ser incapazes de interromper o desenvolvimento de suas coreografias. A opção por um tema jazzístico como trilha sonora colabora com a idéia de tempo contínuo e lento, tanto pelas características musicais quanto por eliminar grande parte da sonoridade própria de tais ambientes (com exceção do início e do final). A edição das imagens cuidou em preservar a continuidade da seqüência coreográfica, aproximando os ambientes. Desta forma, o tempo lento da execução musical e coreográfica contrasta com a velocidade do avanço geográfico, algo somente possível no mundo virtual.

Linguagem artística surgida das relações entre o cinema e a dança, o videodança possui especificidades próprias. Ivani Santana em “Esqueçam as fronteiras! Videodança: ponto de convergência da dança na cultura digital”, (citada em Souza 2009), propõe que a videodança seja compreendida como “um ponto de convergência, de onde, a partir de mediações entre linguagens, emerge uma nova”, pois ainda que determinada obra seja feita a partir de uma coreografia pré-existente à captura, sua configuração como videodança se dará a partir de um entrelaçamento de linguagens, o que a tornará pertencente a um novo meio.

Não cabem, portanto, comparações ou afirmativas preconceituosas como “o vídeo é utilizado para camuflar a falta de habilidades corporais”, uma vez que se trata de meios diferentes, e que requerem habilidades diferentes. Como diz Souza (citada em Souza 2009), “assim como não basta colocar um corpo em cena e dizer que é dança, não bastam imagens de um corpo em movimento para caracterizar a videodança”. Dessa forma, esta autora sugere então uma compreensão de videodança a partir do diálogo entre a dança e a tecnologia, propondo “um universo novo que não existe em outro lugar que não seja o espaço de criação, dado por três momentos espaço-temporais: corpo, câmera e montagem”.

A discussão do corpo na videodança envolve tanto sua relação com a câmera quanto a questão da materialidade. O corpo virtualizado na imagem pode ser reconfigurado e manipulado através de abordagens diversas. Este corpo não é obrigatoriamente humano ou mesmo antropomórfico. Entendendo a corporificação da informação como sua materialização no mundo físico, a corporificação da videodança se dá na mídia. Doulgas Rosenberg em “Notas sobre a dança para câmera e manifesto” (citado em Grotto e Silva, 2010) lança questionamentos do tipo “o que ocorre quando o corpo é o instrumento que inscreve sua própria imagem em um filme?” e diz, ainda, que “a dança para câmera recupera corpos mortos, reinventando-os e recorporalizando-os”. O corpo que se desmancha só fará sentido na obra em questão, enquadrado pela câmera e relacionado aos elementos descritos.

No vídeo dança o corpo é problematizado e discutido no domínio da dança, o que traz a esta discussão um olhar específico. Para Grotto e Silva (2010), faz-se necessário que tal olhar parta não somente da dança e nem que se reduzida a ela.

Não se pode colocá-la como protagonista da interface dança-vídeo, observando apenas a modificação de suas estruturas coreográficas, formas de movimento na tela, papel e conceito do bailarino, etc. O que vemos na maioria das problematizações teóricas acerca do vídeo dança é a referência ao vídeo apenas como uma simples ferramenta, sem voltar-se às suas especificidades enquanto mídia audiovisual, insistindo na idéia de que a dança ainda é a parte principal do híbrido.

(GROTTO, SILVA, 2010, p.5-6)

Os autores também alertam ainda sobre o potencial deste tipo de obra tecnológica para revelar a dança em espaços distintos dos tradicionais. “A possibilidade de montar uma coreografia em um banheiro, numa praça e registrá-la em vídeo e lançá-la para o público é uma maneira de colocá-la em outros lugares. E esse deslocamento simbólico parece ser uma metáfora dos novos contextos sociais, dos quais a dança passa a ocupar quando da sua interação com as novas tecnologias”. Além disso, esse tipo de mídia permite que a dança se torne um evento artístico possível de ser recebido por grandes massas, provocando alterações na relação emissor-receptor envolvida na dança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FF►►. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=vxIseze3VSQ Acesso em: 11 nov 2010.

GROTTO, Valdair. SILVA, Diego. Vídeo, Dança e Comunicação e suas ligações com mídia. Goiânia: Universidade do Estado do Mato Grosso, 2010.

SOUZA, Isabel C. Especificidades da Videodança: o hibridismo, experiência tecnestésica e individualidade no trabalho de jovens criadores brasileiros. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2009)

Resumo da resenha crítica sobre o vídeo dança FF►►, elaborado pelas licenciandas em dança Evie Souto Miranda e Carolina Luisa Bastos Santos, como quarta avaliação parcial do módulo Estudos Críticos Analíticos IV, orientado pelos professores Fernando Passos e Lúcia Matos (UFBA: Salvador, 2010-2)

FF►►

Videodança produzido por Letícia Nabuco em parceria com Tatiana Gentile, Karenina de Los Santos e Marcello Stroppa através de recursos do Rumos Itaú Cultural Dança (2006/2007). Integrante do Circuito Mercosul de videodança, da Mostra Videofronteras -- Espanha e a Mostra Lecube -- França. Exibido em mais de 20 países e em diversos estados brasileiros.

Painel Performático da Escola de Dança da UFBA chega a sua décima sexta edição

O Painel Performático de Dança, realizado na Escola de Dança da UFBA, chegou a sua décima sexta edição proporcionando ao publico uma série de projetos que traduziram em movimentos, todo o processo do fazer artístico. O Painel surgiu como uma forma de apresentar as experiências acadêmicas dos estudantes ao longo do período letivo. As apresentações são realizadas ao final de cada semestre e fazem parte da avaliação dos estudantes que aceitam participar do trabalho com suas respectivas performances. A exibição dos espetáculos também contribui para o amadurecimento de cada aluno, onde podem receber uma resposta mais direta dos espectadores que apreciam a obra dos dançarinos.

12 de novembro de 2010

A Pesquisa Etnográfica na Prática Artística

A etnografia, que significa a escrita sobre o outro, tem sido por excelência o método utilizado pela Antropologia para obtenção de dados. Entretanto, outras comunidades intelectuais, dentre elas os artistas, têm-se apropriado destes métodos em suas investigações, abrindo espaço para uma revisão crítica do mecanismo textual de produção de conhecimento de autoridade sobre o outro.
Em seu artigo “O intercâmbio entre arte e antropologia”, George E. Marcus propõe uma “reinvenção do imaginário da pesquisa de campo antropológica a partir de sua apropriação pelas artes”, onde o distanciamento e a limitação espacial sejam substituídos pela cumplicidade entre observador e observado e pela pesquisa em campos multi-localizados.
Segundo Marcus, tanto a etnografia quanto a pesquisa de campo que a produz estão tradicionalmente imbuídas de “uma função documental e uma representação naturalista”, alimentadas por participações e observações distanciadas dos mundos de outros, tomados meramente como objetos de pesquisa. Para o autor, as práticas artísticas que têm incorporado investigações etnográficas em seus processos de criação podem fornecer inspirações para a antropologia.
Já no campo artístico, as práticas etnográficas têm contribuído para aproximar as buscas intelectuais das diversas realidades do mundo e tem se mostrado um meio poderoso de inserção da crítica social e cultural, onde os locais das pesquisas de campo tornam-se locais de transformação artística e, por conseguinte, de potenciais transformações políticas. Entretanto, o autor alerta para certas situações onde as formas de financiamento de projetos artísticos têm levado a uma interação insuficiente com a comunidade pesquisada, resultando em obras cujo foco passa da investigação cooperativa para uma “autoconfiguração etnográfica, na qual o artista é menos descentrado, enquanto o outro é configurado à maneira artística”.
A pesquisa de campo tem se mostrado uma forma eficiente de coletar informações para investigações artísticas. Entretanto, compartilho com Marcus os resultados de tais investigações deve ser utilizado para transcender a mera representação do outro, ou seja, buscando outros significados para os elementos coletados e transferindo-os para outra situação de trabalho intelectual. Ele traz como exemplo o trabalho do cenógrafo venezuelano Fernando Calzadilla, para quem a maior contribuição da pesquisa de campo está na constituição das “narrativas internas da produção”, conteúdos ignorados pela platéia, mas que se originam das matérias-primas fornecidas pela pesquisa de campo.
Texto sobre a apropriação das pesquisas etnográficas pelas investigações artísticas, tendo com base o artigo “O intercâmbio entre arte e antropologia” de George E. Marcus como segunda avaliação parcial do módulo de Estudos Crítico-Analíticos IV. Orientadores: Fernando Passose e Lúcia Matos.

15 de outubro de 2010

Estudos do Corpo II: Aulas com Odailso Berté

Edição de alguns dos melhores momentos registrados durante as aulas de Estudos do Corpo II ministradas por Odailso Berté para a turma do curso noturno de licenciatura em dança da UFBA durante o segundo semestre de 2010.

11 de outubro de 2010

Damas de Ouro: Luzes, Cores e Movimentos

Neste primeiro semestre de 2010 fui agraciada com a oportunidade de estar em contato com quatro mulheres incríveis, que na qualidade de minhas mestras, generosamente compartilharam comigo seus conhecimentos e experiências de vida. Este texto é uma homenagem às estas quatro damas de ouro: Fernanda Paquelet, Marie Thauront, Lenira Rengel e Gilsamara Moura, e se complementa com o vídeo postado abaixo.

Tudo começou no segundo semestre de 2009, quando a Malaquias aqui “cismou” que iria escrever um projeto para o Yanka Rudzka, edital anual da Fundação Cultural da Bahia para montagem de espetáculos de dança no Estado da Bahia. Quebrei a cabeça e consegui escrever o projeto, que apesar de boa fundamentação teórica, não foi selecionado. Entretanto, este exercício foi de fundamental importância para que eu pudesse perceber que necessitava conhecer algo das áreas técnicas das artes cênicas.

Fernanda Paquelet, sempre de alto astral!

Em fevereiro recebi um email do Ponto de Cultura Gamboarte onde anunciava oficinas gratuitas de iluminação cênica, cenografia e interpretação. Escolhi a primeira, tanto pelo horário quanto pelo meu encanto pela luz. Consegui pegar a última das 20 vagas oferecidas. O curso foi coordenado por Fernanda Paquelet, carioca-baiana atriz, diretora e iluminadora.

Paquelet, como a chamávamos, é uma das pessoas mais bem humoradas que conheci. Concordo quando diziam que é impossível alguém não gostar dela. Simples, competente, acessível, divertida, irreverente, descontraída, cabeça-fria. Suas aulas, recheadas da sua filosofia do bem-viver, passavam rápidas de tão agradáveis e interessantes que eram. Graças a seu bom relacionamento, tivemos visitas ilustres, como Marcelo e Luiz Marfuz, Irma Vidal, dentre outros, além de uma visita ao TCA guiada pelo chefe de palco Marquinhos.

Na expectativa que chegassem os novos refletores do Teatro Gamboa, nos concentramos mais nos exercícios de criação de luz. A parte de montagem e operação ficou para o final e devido à férrea disputa pela oportunidade de montar/desmontar e operar, eu optei por não me desgastar neste processo. Pela quantidade de conteúdos a serem explorados, essa oficina merecia outros três meses.

Marie Thauront, toda paciência e gentileza!

Foi um colega da oficina de iluminação quem me falou sobre o Curso de Maquiagem Artística a ser ministrado por Marie Thauront, maquiadora francesa radicada na Bahia, uma profissional de grande reconhecimento no meio artístico, contemplado por um edital da FUNCEB e por isso gratuito. Imediatamente fiz minha inscrição, mas logo soube que houvera uma inscrições (só na minha turma eu era a 40ª de uma lista de 180 inscritos para 15 vagas). A Malaquias aqui então cismou e cismou, mandou email, pediu por telefone e, apesar de todos os gentis “nãos” recebidos de Marie, lá estava eu, usando a minha melhor e mais lustrada cara-de-pau no primeiro dia de aula.

Não sei por que cargas d’água, imaginei que uma “maquiadora francesa” como uma mulher alta, de cabelos vermelhos, sempre maquiada, de voz aguda estridente, sujeita a ataques de histeria. E lá estava Marie, pequena, tranqüila, com sua voz suave, vestida de forma simples e, pasmem, de cara limpa! Nem um batonzinho pra contar história!

Tanto insisti que consegui sua concessão para assistir as aulas como ouvinte durante o primeiro mês. Caso faltasse alguém, poderia fazer a prática. Foi então que comecei a desejar sordidamente que todo dia alguém faltasse. E toda aula meu desejo ia se realizando, e eu fui praticando até que, no final do mês recebi a notícia de havia sido efetivada. Juro que me deu vontade de sair pulando pela sala.

O curso foi maravilhoso tanto no conteúdo, como nos materiais que pude conhecer e experimentar. As 120h passaram voando e deixou vontade de quero mais. Marie conquistou minha admiração por sua competência como profissional e mestra, pela sua grande paciência, pelo cuidado em nunca desvalorizar nossos resultados (por vezes tão toscos) e, especialmente por me acolher em seu curso.

Lenira Rengel e Gilsamara Moura, energia pra dar e vender!

Por sugestão do meu queridíssimo professor Antrifo Sanches, investi meu último crédito como aluna especial na disciplina Estudos do Corpo I do curso noturno, sob coordenação de Lenira Rengel e Gilsamara Moura. “ - Elas são maravilhosas, você vai ver!”, foram as palavras de Antrifo para descrever essa dupla dinâmica (e põe dinâmica nisso!). Duas paulistas ligadas no 220v, chegadas a pouco mais de um ano , trazendo na bagagem muita vontade de fazer. JUMP!

Técnicas de ballet clássico, Cunningham e power yoga, dentre outras, foram propostas para condicionamento físico e estudos corporais. Investigações sem ter a virtuose, como meta, sem ficar se comparando ou disputando quem é o melhor. Preocupação com a compreensão de cada detalhe, do que porquê daquilo que se está fazendo e não apenas fazer. Rigor e tolerância caminhando lado a lado, buscando uma compreensão contemporânea do corpo, da dança, da educação. Conhecimentos que se complementam e diversificam as atividades, tudo isso com som ao vivo e grilos e pererecas, de cigarras e abelhas, que foram carinhosamente incluídos na nossa coreografia para o XV Painel Performático da Escola de dança da UFBA. É muito bom quando o trabalho em equipe funciona.

Por essas e outras tantas razões não contempladas neste texto, minha eterna gratidão a essas quatro mulheres, mestras de seus conhecimentos específicos, damas que valem ouro pelo seu ser e seu fazer. A elas todo meu respeito e admiração.

18 de setembro de 2010

Damas de Ouro

Malaquias e a Maratona das Vagas Residuais

No primeiro semestre de 2010 esgotei minha cota de disciplinas como aluna especial da graduação (a UFBA permite cursar até seis disciplinas da graduação, não importando o curso). Como há muito tempo venho enchendo o saco do universo, eis a notícia mágica: pela primeira vez, a Escola de Dança abriria vagas residuais! Foram disponibilizadas apenas 6 vagas e a prioridade sempre para alunos de outro curso que desejem fazer transferência interna. Continuei enchendo o saco do universo e mais o vez ele conspirou a meu favor: nenhuma solicitação de transferência interna!

Fiz minha inscrição e outra boa surpresa: penas 6 canditados inscritos, ou seja, concorrência 1:1. Só se eu zera-se uma das três avaliações e isso, é claro, eu não deixaria acontecer. Sim, três avaliações. A primeira estava marcada para o dia 27/06 (pela tarde, graças a Deus!) e se constituía de uma redação, além de 35 questões V/F sobre a área de dança. Cada erro, além do ponto não conquistado, valia – 0,5pts. Sinceramente, não acho um critério justo, mas fazer o quê? Vestibular seria uma maratona pior, eu imaginava. Veja abaixo o conteúdo programático:

Objetivos gerais: Avaliar os candidatos acerca dos conhecimentos sobre processos e configurações artísticas em dança, identificando os diferentes modos de constituição existentes e refletindo sobre o corpo e suas proposições criativas sob perspectivas sociais, políticas, filosóficas e científicas, atualizando a compreensão da dança no contexto contemporâneo.

Conteúdo Programático

1. Dança e criação – a construção da obra de arte ( 1.1 Redes; 1.2 Working in progress; 1.2 Formatividade da obra de arte)

2. Dança como pensamento do corpo (2.1 – Corpomídia; 2.2 – Metáforas no/do corpo)

3. Dança e Identidade (3.1 - Processos identitários; 3.2 – Noção de pertencimento: local e global; 3.3 – Dança e hibridismo cultural)

Bibliografia

COHEN, R. Working in Progress na Cena Contemporânea.

DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes. Companhia das Letras, São Paulo, 1996.

__________________. O mistério da consciência. Companhia das Letras, São Paulo, 2000.

GREINER, C. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. Annablume, São Paulo, 2005.

KATZ, H. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. FID, Belo Horizonte, 2005.

Com exceção do tópico 2, o resto era novidade para mim. Na manhã do dia 29/06 aconteceria a prova de prática e no dia 30/06, a prova de análise textual”, segundo descrição abaxo.

A avaliação constará de uma prova prática, com duração máxima de quatro horas, na qual serão observadas, através de experiências individuais e coletivas, a habilidade e a capacidade criativa do candidato no desenvolvimento de ações coreográficas em dança e de uma prova de análise textual, com duração máxima de quatro horas, cujos textos, que abordarão o universo da dança, estarão disponíveis no site da Escola de Dança da UFBA, com antecedência mínima de duas semanas em relação à data das provas. Serão disponibilizados três textos para leitura, dentre os quais, será escolhido, no dia da prova teórica, através de sorteio, apenas um deles para ser analisado.

Dia 17/06 a noite foi a apresentação da nossa coreografia no XIV Painel Performático. No dia seguinte estive na Escola de Dança em busca dos textos para a última avaliação. Vale ressaltar que estava acontecendo a ocupação Zé Celso, e a confusão era total. Os textos ainda não estavam disponíveis para fotocópia, mas um funcionário me mostrou que já havia colocado o link no site da Escola. Fiquei tranqüila e fui fuçar as pastas das disciplinas lá na xérox da Escola de Veterinária. Encontrei apenas o texto da Helena Kartz (cujo livro tentava comprar e não conseguia) na pasta do mestrado e fiz uma cópia. Chegando em casa, fui pesquisando na internet e levei o primeiro choque: o link continha apenas a referência dos textos para a prova de análise textual e não os arquivos, como eu esperava. Apelei para o google mas achei apenas algumas resenhas e comentários, porém nada sobre os textos da última avaliação, que eram os seguintes:

BRITTO, Fabiana. Carta de Des/Intenções; Canteiro de Obras; Como é o que Existe; Trajetória Histórica não é Processo Evolutivo; IN:Temporalidade em Dança: parâmetro para uma história contemporânea. Belo Horizonte: FID Editorial, 2006.

VIEIRA, Jorge. Teoria do Conhecimento e Arte. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2006 .

KATZ, Helena. Três Três Três IN: A Dança é o Pensamento do Corpo. Belo Horizonte: FID Editorial, 2005 .

Dia 18/06 comecei um processo gripal, que ainda que leve, comprometeu a minha disposição para os estudos. E assim passei meu feriado junino: em casa, lendo nos momentos em que a gripe deixava. Chega o dia 27/06. Com um campos tão grande, não sei porque a UFBA escolheu o Pavilhão de Aulas do Canela, onde é um tanto complicado para estacionar. Não pensei que haveria tanta gente. Na minha sala estavam reunidos os candidatos a uma vaga nos cursos de dança, música, teatro e artes visuais.

Minhas buscas na internet não foram em vão. Das 32 questões que respondi errei apenas uma, logo fiz 30,5pts (87%). O tema da redação foi “solidão”. Não entendi porque não deixaram a gente levar a prova, já que no dia seguinte sairia o gabarito. Bom, coisas da UFBA! No dia 29/07 lá vou eu, com o corpo ainda dormindo, fazer a prova prática (logo pela manhã. Socorro!). Um dos candidatos havia desistido. Tentando dissimular minha indisposição matinal, lá fui eu junto com os outros quatro, três garotas e um rapaz. A prova prática, apesar de cansativa, foi muito bem elaborada. Na hora da composição coletiva eu desejei que ninguém escolhesse se jogar no chão, mas foi pedir demais! No final do dia a banca nos orienta a trazer os três textos no dia seguinte, pois a prova seria feita com consulta de material. “MAS ONDE ESTÃO ESTES TEXTOS QUE EU PROCUREI E NÃO ACHEI?” Estão na portaria da Escola, me disse uma das alunas.

Sai como louca, peguei os textos e fui xerocar. Só que o dinheiro que eu tinha não era suficiente e eu tive que implorar para que abrissem uma exceção e me fizessem fiado que eu pagaria no dia seguinte, que era caso de VIDA ou MORTE! Deu 100 folhinhas, isso com letra pequena. Tudo bem, leio agora a tarde. Mas o resto da gripe e o desgaste físico fizeram com que eu me entregasse nos braços de Morfeu (ronc...ronc). E já que a prova seria com consulta, resolvi deixar para ler na hora da prova.

No dia seguinte, já na sala a coordenadora entra dizendo que o texto seria escolhido por sorteio, mas que não seria permitido consulta, conforme orientação da banca no dia interior. GELEI! Argumentei o que havia ocorrido, que dia 18/06 o texto ainda não estava disponível, etc, etc, etc. De nada adiantou. A coordenadora lamentou e me orientou a entrar com recurso caso me sentisse lesada. Comecei a me sentir mal, num misto de desespero, raiva, desilusão. Só me restava contar com a sorte. Eu tinha uma chance em três de não zerar a prova. Apelei com fé e...”O TEXTO SORTEADO FOI O DA HELENA KARTZ”. Salva pelo gongo!Quase chorei/gritei/pulei/dancei de alegria. Final (feliz) da história: todos os cinco candidatos aprovados! Fiquei em terceiro lugar, mas ficaria igualmente contente com o último!

“E Malaquias então cortou o galho, pegou o seu docinho de banana-da-terra, comeu muito satisfeito, lambeu os beiços...e só depois resolveu voltar para casa.”

25 de junho de 2010

Corpos que Indagam: reflexões sobre dança como arte contemporânea

Nos intervalos dos bailes de dança de salão é muito comum casais ou grupo de casais apresentarem suas “coreografias de exibição”, onde movimentos, figurino e trilha sonora foram previamente definidos. Tais apresentações quase sempre me desagradam. Certa vez, durante uma conversa com outros praticantes das danças de salão, comentei tal insatisfação e não pude evitar comparar tais apresentações com outros espetáculos de dança que já assisti. Foi quando escutei a seguinte afirmação: “Mas é porque existe dança e dança de salão”.

Estimo que os espetáculos de dança contemporânea passaram a fazer parte do meu roteiro de lazer a, pelo menos, quinze anos. Desde então, tenho procurado assistir tudo o que tenho oportunidade. Alguns gosto, outros não. Talvez não compreenda maioria deles. Mas em geral há algo neste tipo de espetáculo que não encontro nas “coreografias de exibição” das danças de salão e que, durante muitos anos, não soube definir o que era.

Encontrei a solução para o meu enigma nas palavras exatas de Helena Kartz, professora e crítica de dança: “A dança que indaga cabe dentro da nomeação de contemporânea e a dança que não interroga seu público pertence à outra espécie”.1 Compreendi então que a minha insatisfação para com as apresentações de dança de salão advinham do fato delas apenas me oferecerem a confortável e entediante condição de espectador passivo, cuja única função é a observação contemplativa do que está sendo apresentado.

Na dança enquanto arte contemporânea, a idéia de espectador como “um sujeito-lugar onde ancora algo produzido fora dele” já não cabe, pois aquele que assisti é também co-criador, transformador e disseminador das informações que recebe, fazendo-se necessário uma apreciação investigativa para entender o que se passa. “A obra me pergunta e cabe a mim levantar hipóteses sobre ela... Parece que há mais a identificar do que o olho capta de imediato... Precisamos construir juntos a legenda do que se passa”. 1 Cada espectador é único, pois a nossa percepção de mundo é uma experiência individual e variável, construída a partir de uma seleção e de uma montagem do que estamos aptos a perceber e que media nossa relação com um ambiente também variável.

Faz-se necessário também uma outra compreensão de corpo. Na proposta de corpomídia, o corpo é entendido como “corpomídia de si mesmo”. 2 Mídia não como um meio de transmissão, mas como um estado do corpo. “O corpo é mídia desse seu estado, por isso é sempre mídia de si mesmo, de cada momento, o que equivale a dizer que ele sempre se apresenta com a coleção de informações que o constituem naquele exato momento. Por isso o corpo não é, o corpo está sendo corpo”. 2 Pensar que a informação se torna corpo traz conseqüências políticas, pois instaura a transitividade no lugar anteriormente ocupado pela noção de identidade.

Será possível então a dança de salão, enquanto técnica, ser utilizada dentro uma concepção contemporânea de dança? Ainda segundo Kartz, na dança contemporânea o mais importante é a forma como são organizadas as informações que vieram das técnicas aprendidas na coreografia. Ou seja, para a dança contemporânea, o “que” o corpo está fazendo (técnica utilizada) perde importância diante do “como e/ou para que” o corpo o está fazendo.

É preciso também deixar de pensar as técnicas como “uma bula de instruções das coreografias em que pode resultar, uma receita de um destino estético” e passar a compreendê-las como possibilidades de composição. Por isso, o simples reconhecimento da técnica utilizada não é suficiente para identificá-la como índice de vínculo para classificação do “tipo de dança”.

Dessa forma, além de comportar as mais diversas técnicas, a dança contemporânea permite o desenvolvimento de propostas pessoais mesmo que encarnadas em determinada técnica, pois “apesar da técnica inscrever marcas que dirigem o desempenho do corpo, os passos, gestos, seqüências e frases podem ser desmontadas e remontadas de modos diversos, desmanchando aquelas expectativas que o hábito automatizou em nós”. 1

Referências

1. KARTZ, HELENA. O corpo como mídia do seu tempo – A pergunta que o corpo faz. In: Rumos Itaú Cultural Dança, CD-ROM. São Paulo, 2004.

2. KARTZ, HELENA. Todo corpo é mídia. Com Ciência, Revista Eletrônica de Jornalismo SBPC, UNICAMP. Disponível em < http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=11&id=87 >. Acesso em 20/06/2010.

3. KARTZ, HELENA. O espectador da arte contemporânea. 2005 (referência não encontrada)

20 de junho de 2010

A Saga de Malaquias

Que boa surpresa tive eu quando resolvi, depois de todo esse tempo, postar algo e vi que este blog teve mais de trinta visitas desde então! Obrigado àqueles que dedicaram um pouco do seu tempo a conhecer um pouco das minhas experiências artísticas.
Passei aqui só para deixar um breve registro das conquistas dessa Malaquias que vos fala: no dia 12 de maio, exatamente um mês depois do inicio no curso de maquiagem como penetra, fui efetivada como aluna regular. Também, acho que fiz por merecer: até hoje não faltei nenhuma aula e realmente estou empolgada pelo mundo da maquiagem. Cada dia surpreendo a mim mesma com minhas criações.
Outro presente do universo: finalmente me increvi para a seleção das vagas residuais para a licenciatura em dança na UFBA e só a concorrência será de 1:1. O processo é composto por três etapas: prova de 35 questões sobre temas de dança + redação no dia 27/06, prova de habilidade específica (prática de dança)no dia 29/06 e análise textual (que eu não sei se será escrita ou oral, individual ou em grupo) dia 30/06.
Será um processo cansativo, mas estou confiante que uma das vagas será minha. Ou será que existem outros tantos Malaquias torrando o saco do universo (rsss)? Torçam por mim e até a próxima postagem, que será semana que vem, um resumo do texto que estou escrevendo para a disciplina Estudos do Corpo na Dança I, a partir de três deliciosos textos de Helena Kartz, professora e crítica de dança. Para conhecer os textos dela acessem http://www.helenakatz.pro.br/

13 de maio de 2010

Corpos Noturnos - investigando possibilidades corporais

Investigações de possibilidades corporais e coreográficas da turma 2010.1 do curso noturno de licenciatura em dança da UFBA como atividade do módulo Estudos do Corpo I, sob a coordenação das professoras Lenira Rengel e Gilsamara Moura.

8 de maio de 2010

Desejos e Responsabilidades: o pensamento positivo e a perseverança como estratégias de ação.

“Tudo começa a ser real desde o pensar, pois é da lei da mente concretizar o que nela é elaborado, inclusive fazer sumir o que é ruim e firmar o que é bom”. (autor desconhecido)

No começo deste semestre, foi solicitado a nós, alunos da disciplina Estudos do Corpo I que escrevéssemos um pequeno algo inspirados na leitura do texto “Desejos e Responsabilidades” do Humberto Maturana. Decidi refletir e escrever sobre uma determinada característica à qual credito muitas das minhas conquistas na vida: a perseverança. E me lembrei de uma historinha que costumava escutar quando era criança, a do macaco Malaquias, que quando cismava com alguma coisa, nada lhe demovia dos seus objetivos.

Certo dia Malaquias deixa cair acidentalmente dentro do galho oco de uma árvore seu docinho de banana da terra, justo o que ele mais gostava!. Determinado a recuperar o seu docinho, Malaquias toma a decisão que lhe parece mais simples: vai até o ferreiro da cidade e lhe pede para fazer um machado. Mas o macaco não tem dinheiro, o ferreiro lhe vira as costas. E assim começa a saga de Malaquias. Na história musicada, cantada (e acredito que composta) por Tom Zé, Malaquias recorre a diversos personagens seguindo uma hierarquia crescente de influência. A cada novo personagem sua ladainha vai se tornando maior até que ele chega às últimas instâncias e decide então enfrentar a Morte. Segue abaixo o último trecho da ladainha de Malaquias:

“Oh Dona Morte, oh, oh Dona Morte, oh, oh Dona Morte, oh Dona Mortinha... Oh Dona Morte vá matar o homem, para ele matar o boi, para ele beber a água, para ela apagar o fogo, para ele queimar o pedaço de pau, para ele bater no cachorro, para ele morder o gato, para ele comer o rato, para que ele vá roer a roupa da Rainha, que é para ela mandar o rei mandar o ferreiro fazer o machado (inspira profundamente para recuperar o fôlego), que eu preciso cortar o galho pra tirar o meu docinho que caiu dentro do oco”.

E a Morte então se rende ao drama de Malaquias e começa uma sucessão de ameaças de acordo com os planos do macaco. Enfim, ao mando do rei, o ferreiro faz o machado, Malaquias recupera seu docinho e o saboreia satisfeito. Tenho uma grande identificação com Malaquias. Quando quero algo sou capaz de uma persistência invejável. Ano passado “cismei” que precisava entrar na turma de Antrifo e Fernando, mesmo não podendo freqüentar ás sextas. O universo conspirou a meu favor e consegui me inserir na disciplina.

Este ano, no ato de inscrição para a Oficina de Iluminação Cênica com Fernanda Paquelet no ponto de cultura GAMBOARTE, fui informada que só haviam 12 vagas (eu era a 20 inscrita), mas que se houvesse desistência eu seria informada. E eu cá comigo “mesmo assim estarei aqui na primeira aula!”. Por sorte eram 20 vagas e eu não precisei entrar de “penetra”. Entretanto, quando soube da Oficina de Maquiagem Artística promovida pela FUNCEB e ministrada por Marie Thauront, as poucos vagas por turma já tinham sido preenchida em três dias.

Para quem não conhece, Marie Thauront é “a referência” em maquiagem artística em Salvador. Francesa, radicada na Bahia, Marie formou-se pela Ecole Chauveau de Paris e tem 25 anos de experiência em maquiagem para teatro, cinema, publicidade, shows e social. Antes de começar o curso falei com ela uma seis vezes por telefone e email explicando minha necessidade em participar e insistindo para que ela me aceitasse como aluna “olhante / ouvinte”, e que, apenas no caso de alguém faltar, ela me desse a oportunidade de praticar. E ela sempre gentilmente argumentava que achava que não seria possível, pois a procura tinha sido imensa e eu era a 40ª na lista de espera da minha turma (que tinha 180 esperando).

Primeira aula e OLHA EU LÁ, com a minha cara de pau bem polida. Apresentação da turma e eu assumi que estava ali na qualidade de aluna penetra. E ela disse “ah, sim, me lembro de você”. Acordamos que eu só praticaria quando alguém faltasse, pois o material fora comprado para apenas 60 alunos e não teria direito ao material didático nem ao certificado. Tudo bem, eu aceito, é o conhecimento que mais me interessa. E antes de cada aula eu desejo com fervor que falte alguém e não é o que vem acontecendo? Já tivemos sete aulas e pude participar de todas!

E agora saiu o edital para as vagas residuais da UFBA que eu tanto esperava! Todo ano a UFBA avalia a possibilidade de abrir vagas pra transferências e portadores de diploma através de uma seleção mais simplificada que o vestibular. Em 2009 não teve nenhuma. Para dança faz anos que não tem. Mas este ano abriram 6 vagas para o curso de licenciatura em dança diurno! Ainda terei que esperar até junho, pois os alunos da UFBA que desejarem mudar de curso tem prioridade no processo. Eu, como portadora de diploma, sou a ÚLTIMA na lista das prioridades. Mas, como diria Malaquias, a esperança é a última que morre! Acredito que uma dessas vagas será minha. Por que? Porque simplesmente EU QUERO MUITO QUE ISSO ACONTEÇA!

Como o autor, acredito que construímos nossos caminhos na vida a partir dos nossos desejos. Já consegui muitas coisas usando a estratégia Malaquias e até mesmo quando não tenho êxito me sinto satisfeita por ter tentado insistentemente. Como diz o ditado, prefiro me arrepender daquilo que fiz do que daquilo que não fiz. Obrigada Malaquias, por não me ensinar a persistir. Torçam por mim!

3 de abril de 2010

Estudos do Corpo I – Conhecendo o Corpo pelo Corpo e para o Corpo

O tempo parece passar mais depressa quando estamos vivendo bons momentos. Este é meu sétimo semestre como aluna especial da Escola de Dança da UFBA. Escrevendo este texto me dei conta de que, se tivesse tido ânimo para fazer o vestibular e tivesse sido aprovada, já estaria em vias de conclusão de curso. Lembro-me como se fosse ontem quando em 2007 me dirigi ao Núcleo Acadêmico para solicitar matrícula como aluna especial da graduação e fui recebida pela professa Adriana Bittencourt, que me propôs cursar uma disciplina do mestrado. “Mas eu não sou graduada em dança. Sou técnica em química, farmacêutica e especialista em saúde coletiva”. E com a maior simplicidade ela me respondeu que não importava a minha formação acadêmica desde que eu tivesse uma questão ligada à dança que desejasse investigar. E eu, na verdade, tinha, tenho e espero continuar tendo muitas questões a investigar!
Como já contei anteriormente, a dança sempre esteve presente na minha vida como atividade física e entretenimento. Desde criança, o movimento sempre foi minha principal forma de expressão. Aos sete anos de idade fui rejeitada no ballet clássico porque me consideraram “pequena demais para a idade”. Apesar de frustrada fui me inserindo em outros tipos de expressão artística, como jazz, ginástica rítmica, dança afro, dança do ventre, teatro e canto. Em 1999 as danças de salão entraram em minha vida como lazer e em 2002 como prática pedagógica. Em 2004 conheci o contato de improvisação. Acredito que essa miscelânea de vivências acadêmicas e artísticas contribuiu para a elaboração de certos questionamentos em relação às danças de salão. A partir de 2006, mesmo sem conhecimentos teóricos específicos, comecei a aplicar os diversos conhecimentos adquiridos na dança e na vida no meu corpo e na minha prática pedagógica.
Então, em 2007 ingressei como aluna especial na Escola de Dança da UFBA a fim de fundamentar e transformar minha prática pedagógica em dança. Cursei as disciplinas Danças Populares: Padrões em Evolução, Dança e Cognição (mestrado), Laboratório de Corpo e Criação Coreográfica I, Arte como Tecnologia Educacional I e II (graduação), além de Música e Ritmo, Laboratório de Corpo e Criação Coreográfica II e Sexualidade e Performance (esta última da pós-graduação em artes cênicas), das quais participei como ouvinte. Durante o segundo semestre de 2008 tive também a oportunidade de investigar juntamente com o professor David Iannitelli as interfaces possíveis entre o contato de improvisação e as danças de salão.
Por sugestão do professor Antrifo Sanches, este semestre solicitei matrícula como aluna especial na disciplina Estudos do Corpo I do recém-nascido curso noturno de Licenciatura em Dança da UFBA, ministrada pela dupla Lenira Rangel e Gilsamara Moura. Em apenas um mês tive a oportunidade de experimentar algumas técnicas de corpo (como ballet clássico, Cunningham e power yoga) com uma abordagem muito particular: a ênfase no processo, no fazer, o que tem me permitido total liberdade para observar, corrigir, perceber meus limites, expor minhas dúvidas, debater idéias. Ainda que a técnica se repita, as aulas tem sido únicas, sempre repletas de descobertas para mim. Cada aluno é respeitado em seus limites e possibilidades. Não é cobrado nenhum tipo de virtuosismo. Acredito que os meus 36 anos me dão o posto de “a mais velha da turma”. E mesmo não estando na melhor das formas, me sinto acolhida tanto pela turma como pelas professoras. As aulas também visam melhorar o condicionamento físico e, apesar de sair exausta quase todos os dias, tenho me sentido muito bem disposta. É o que me encoraja a enfrentar o engarrafamento do final de tarde quatro vezes por semana. Tem valido (e muito) a pena!
Ainda temos três meses de experimentações e descobertas pela frente. Mas escrevo este texto com uma certa nostalgia, pois essa é a última disciplina da graduação que poderei pegar como aluna especial na UFBA. Mas como bem diz o ditado “a esperança é a última que morre”: com dedos cruzados, santos e orixás estão a postos, aguardo ansiosa pela abertura de vagas residuais para a Licenciatura em Dança, as quais pretendo me candidatar como portadora de diploma. Caso minhas preces sejam atendidas, pretendo prosseguir fundamentando minha prática artística e pedagógica em dança, em especial buscando aproximar as danças de salão do contexto contemporâneo corpo, dança e mundo.

31 de março de 2010

TANGO ENTR&PRIMOS

Aproveitando um dos raros encontros com meu primo Victor Rocha para experimentar possibilidades no tango, em especial nos movimentos fora de eixo, conhecidos como colgadas e volcadas.

16 de março de 2010

Loalwa Brás, do Kaoma, fala sobre Zouk Brasileiro

Trecho de entrevista dada por Loalwa Brás, líder do grupo Kaoma, a Eduardo Filizzola, da Banda Aíxa, sobre Zouk Brasileiro. Assista a íntegra desta entrevista no link: http://www.bandaaixa.com.br/br/loalwa

24 de fevereiro de 2010

Eu Vou Te Contar Que Você Não Me Conhece - VERSÃO REDUX

Versão reduzida da coreografia construída coletivamente pela turma 03 a partir dos experimentos propostos pela turma 03 do Laboratórios de Corpo e Criação Coreográfica I, disciplinas do curso de Licenciatura em Dança da UFBA, sob orientação de Antrifo Sanches e Fernando Passos, durante o primeiro semestre de 2009.

A cena original teve duração de 40 minutos e participação de 16 dançarinos co-criadores. Foi apresentada no Teatro do Movimento durante o XIII Painel Performático da Escola de Dança da UFBA, no dia 16 de julho de 2009.

A edição foi feita utilizando o Windows Movie Make e, para isso, as imagens originais captadas e gravadas em DVD por Giltanei Amorim foi reproduzida no Windows Media Player e as imagens do monitor foram gravadas com câmera fotográfica. Daí a baixa qualidade das imagens. Mas vale como registro e divulgação desse processo de construção coletiva de uma cena de dança contemporânea.

Agradeço a todos que tornaram possível este trabalho.
Painel Performático Evie Souto Laboratórios de Corpo e Criação Coreográfica Licenciatura Dança UFBA.

“Eu não sou eu, nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro”

(O Outro, poema de Mário de Sá Carneiro)

22 de fevereiro de 2010

Dançando Idéias: Vivenciando um Processo Criativo em Dança Contemporânea - Parte II – Uma construção coletiva

Dando continuidade à trilogia DANÇANDO IDÉIAS, dedico essa segunda parte às minhas experiências enquanto aluna da turma 03 dos Laboratórios de Corpo e de Criação Coreográfica I durante o primeiro semestre de 2009.

Após o processo de realocação, 17 alunos optaram pela turma 03, cuja proposta era gerar discussões e experimentos em torno do tema gênero e sexualidade: Alana Falcão, Ana Flávia Cazé, André Marinho, Carol Falcão, Diego Vitorino, João Miguel, Joélia Rocha, Joline Andrade, Loraine Brito, Maria Paula Marocci, Mayana Magalhães, Natália Matos, Natália Rosa, Simone Gonçalves, Thiago Bittencourt, Victor Hugo Paiva e EUZINHA, claro, toda feliz e contente! Logo de cara decidimos construir um blog para arquivamento virtual da “produção criativa e intelectual” da turma, a ser alimentado com as discussões e os relatos do nossos experimentos de investigação coreográfica. Começavam assim as atividades do GRANDES LÁBIOS! (http://grandeslabs2009.blogspot.com/)

Além de muita leitura e discussão, fizemos exercícios de observação e descrição etnográficas, que resultou num experimento performático na Biblioteca Central da UFBA. Em seguida vieram os laboratórios propriamente ditos, onde cada aluno “utilizaria” a turma como matéria prima para suas investigações. A partir dos resultados dos laboratórios, a turma deveria construir coletivamente uma coreografia de dança contemporânea a ser apresentada no XIII Painel Performático da Escola de Dança (julho). Após seu laboratório, cada aluno deveria fazer um relatório sobre o experimento contendo a descrição e avaliação do mesmo e postá-lo no blog, pacto que infelizmente não cumprimos na íntegra.

De acordo com a nossa programação original, cada manhã de aula seria ocupada por um laboratório, sendo as duas primeiras horas utilizadas para o experimento propriamente dito, ficando o restante do tempo livre as discussões dos resultados. Mas alguns eventos adversos obrigaram a mudar os planos iniciais e a partir da segunda quinzena de tivemos que realizar dois laboratórios por manhã. Por azar o meu foi um deles, após ser duas vezes adiado por causa das chuvas. E como azar pouco é bobagem fiquei com o segundo tempo da manhã.

Eu, estressada com os adiamentos anteriores, sofria ao ver que o tempo estava se esgotando e a discussão do laboratório anterior continuava de vento em polpa. Faltando 90 minutos para o término da aula, não me restou outra alternativa a não ser “mostrar o falo”. Incorporei o general e conduzi meu o experimento com mãos de ferro. Este clima militar, juntamente com agitação da turma devido ao laboratório anterior resultou numa "arena de baile", onde duplas de dançarinos se "degladiavam" usando movimentos inspirados nas danças de salão. O relatório e vídeo com edição "romanceada" deste experimento foi postado aqui sob o título DISCURSOS HABITAM CORPOS.

Dezessete laboratórios depois, chegou o momento de selecionar as cenas para construir a coreografia para o Painel Performático, que de acordo com as regras, não deveria exceder 10 minutos. Como não estive presente neste momento, recebi por email o "esqueleto frankensteinco" do nosso trabalho.

Oi, pessoas!

Como hoje é o último dia para inscrição no Painel, os que estiveram presentes na aula de hoje selecionaram algumas cenas dos laboratórios que consideraram importantes para a cena coletiva e escolheram o nome do trabalho. Tudo pode sofrer alterações e vale lembrar que não há ainda uma estrutura pronta desta cena. Ficou mais ou menos assim:

Lab. de Joline

Cena - Kama Sutra/ Antrifo, Fernando, João e Diego

Cena - Manipulação/ Mayana, Victor, Ana Flávia e Joélia

Lab. de Naty Rosa

Cena - Dança de Salão/ Victor e Evie

Cena - Camisa no ombro e tecido/ André

Cena - Manipulação*/ Alana, João e Mayana

*possível interação com a de Loraine (fotos pornográficas)

Lab. de Alana

Cena - Fotografia da família/ Todos

Lab. de Thiago

Cena - Falas de impacto*/ Maria Paula, Joélia e Loraine

Cena - Casal/ Natália M. e Victor

*foi proposto que houvesse em um canto do palco uma mulher "se masturbando". Ela estaria mascarada (ou não) ou seria a projeção dela numa webcam (como Fernando havia sugerido)

Lab. de Joélia

Sugestões de cena:

- um homem com figurino de bailarino executando seqüência feminina e uma mulher com figurino de bailarina executando seqüência masculina

- mulheres vestidas de bailarino (malha masculina, etc.) com um "pênis" por dentro dessa roupa.

Lab. de Simone

Cena - execução de grande seqüência por todos com falas* num microfone (com e sem pausas).

*essas falas seriam como as de Thiago e Antrifo: 'Sou bicha mesmo!' ou 'Trepo com homem mesmo, cara!

Lab. de Mayana

Cena - Perfil de orkut/ André e Victor ou de Evie

Cena - Música de Roberta Close*/ André

*André e uma mulher (foi pensado em Mayana pela estrutura física) estariam travestidos de mulher

Lab. de João

Cena - Dança/ Todos

Lab. de Victor

Cena - Seqüência de Jazz

Lab. de Coca

Cena - Alana

*foram citadas as imagens: mulher bandeja, Branca de Neve (mulher ideal). Pensamos numa mulher num caixão-marmita (marmita no formato de caixão ou caixão feito do material de marmita: alumínio, papelão, etc).

Lab. de Naty Matos

Cena - Rave / Todos

*Foi sugerido que essa fosse a abertura onde todos estariam dançando e alguém estaria de olhos vendados e/ou outra pessoa deitada no chão com a bunda de fora.

Lab. de Maria Paula

Cena - Sheila e o Pneu/ André

Cena - Se arrumando/ Mayana

Cena - Toque no público/ Antrifo

Cena - Metade alegórica/ Naty Rosa

Cena - Meu nome é Gal/ Thiago

Lab. de André

Cena - Brincadeiras/ Todos

*foi sugerido que alguém falasse no microfone de forma natural e espontânea coisas como: 'Gostava de brincar de gude, elástico, meu tio tentou me abusar ou meu tio quis brincar de médico comigo, boneca, carrinho...' e outras pessoas estariam encenando essas "brincadeiras".

Lab. Ana Flávia

Cena - Saia invertida/ Antrifo

Outras sugestões:

- na cena da boite de abertura, antes da música para o ambiente, teriam badaladas de um relógio;

- ter um armário de onde algumas pessoas saíssem e/ou uma pessoa com vários cabides dependurados nela;

- a música de Roberta Close (para a cena de André e mulher travestidos) seria cantada à capela por alguém no microfone;

- aproveitar os depoimentos para trocas de roupas, cenários, cenas, etc;

- caso Thiago seja o homem do cabide/armário que toque um funk (que não sei a letra, mas tem tudo a ver com a coisa) enquanto ele troca de roupa para virar "Gal";

- desfile com saias ao contrário: pessoas usando calcinhas e cuecas.

O nome escolhido para o trabalho foi "Eu vou te mostrar que você não me conhece". Tem uma música de Maria Betânia com esse nome ou verso. Por favor façamos todos pesquisa para trilha do nosso trabalho.

Com espanto crescente, li e reli este email algumas vezes, tentando imaginar de que forma essa miscelânia de cenas poderiam ser costuradas para formar algo “coerente”. Duração do trabalho: 40 minutos. E pode? Claro, afinal somos 17 e se cada um apresentasse uma cena ocuparíamos 170 minutos do Painel. Assim economizamos 130 minutos do tempo dos espectadores. Argumento aceito, trabalho inscrito.

Para complicar um pouco mais optamos por usar algumas tecnologias a serem operadas pelo próprio elenco durante a cena (nada mais contenporâneo, não acham?). Cenário: quem tem isso, quem tem aquilo... vedadeiro bombardeio de mudanças a todo momento. Eu, apreciadora "da ordem e do método” a la Hercule Poirot, me sentia zonza no meio desse universo caótico da dança contemporânea.

Eis que chega o grande dia... Epa, nosso trabalho não estava constou na programação do Painel e ninguém soube explicar o por quê. Começamos bem... Marcado para as 21h, começamos às 22h30. Os 40 minutos parecem ter acontecido em cinco. FIM! Acabou? Eu sobrevivi? Puxa, e não é que conseguimos mesmo? Eba, nem consigo acreditar! Nossos professores-corujas estavam radiantes com os resultados, apesar das falhas. A turma estava exausta, mas satisfeita. Arrumamos as tralhas e às 00h30 retornávamos sãos e salvos para o aconchego dos nossos lares graças a um esquema de carona solidária!

Aprendi muita coisa neste período, até mesmo que um pouco de caos não faz (tão) mal a ninguém. Agradeço aos meus colegas e professores a oportunidade de fazer parte desse processo coletivo de criação coreográfica em dança. A versão reduzida do nosso trabalho pode ser vista no link http://www.youtube.com/watch?v=SdJzDpNdgQM.

Não percam a terceira e última parte da trilogia, brevemente em cartaz neste blog. Aguardem!