29 de abril de 2009

Aulas na Escola de Dança da UFBA

A partir do mês de maio estarei dando aulas na Escola de Dança da UFBA (Av.Ademar de Barros, s/nº, Campus de Ondina. Entrada pelo portão principal, em frente à Rua do Zoológico).
Tenho construido uma proposta pedagógica diferenciada para as danças sociais a dois, onde os conteúdos, organizados em três módulos interrelacionados durante os exercícios, são: percepção corporal, percepção espacial e percepção musical. A metodologia se baseia na proposição de problemas como alternativa a imitação e repetição de “passos”. Dessa forma, pretende-se capacitar os indivíduos para uma prática criativa e crítica das danças sociais a dois.
As turmas serão plurinivelares, ou seja, os exercícios propostos respeitarão a evolução e conhecimentos prévios de cada aluno. Serão abordados as diversas linguagens ("ritmos") como bolero, tango, samba, forró, salsa, dentre outros, considerando o interesse do grupo. As aulas acontecerão as terças e quintas, das 18h-19h e das 19h-20h e o valor da mensalidade é de R$ 70.
Agradeço a todos que me prestigiaram com suas presenças na aula aberta do dia 28/04. Mas atenção: seu direito a uma aula experimental gratuita está garantido em qualquer momento!
Agradeço a quem puder divulgar!

Somos Contemporâneos de Nosso Tempo? Parte II – Construindo uma proposta pedagógica

“O grande desafio da didática na área de dança é repensar, pesquisar e propor formas de ensino condizentes com as propostas contemporâneas de educação...O que determina a escolha metodológica – consciente ou não - de um professor de dança é o seu estar no mundo, que reflete o seu pensar e agir em sociedade sobre corpo, dança e educação”. (Isabel Marques)

Na modernidade educar significava disciplinar a subjetividade e treinar os indivíduos, concebidos e tratados como passivos e uniformes, para obter cópias perfeitas do conjunto de “verdades incontestáveis e imutáveis”, socialmente legitimado como conhecimento. Estes modelos denominados positivistas propunham uma educação reprodutora, onde o fluxo de informação se dá apenas do professor para os alunos, que devem ser provar sua capacidade de reproduzir cópias mecânicas do conhecimento transmitido em um tempo médio estipulado por especialistas. Já nas perspectivas pós-positivistas, o conhecimento passou a ser concebido como “um processo dinâmico e encarnado em sujeitos e instituições sociais em interação com seu meio vital e em permanente transformação”, onde professor experimenta o papel de articulador e promotor de atividades e se propõe a existência de saberes em lugar das verdades eternas (1).

Segundo o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (1996), as práticas pedagógicas devem preocupar-se em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais, os “quatro pilares do conhecimento”, que são: aprender a conhecer (abertura para o conhecimento que liberta verdadeiramente da ignorância), aprender a fazer (coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar), aprender a conviver (desafio da convivência que apresenta o respeito a todos como caminho do entendimento) e aprender a ser (papel do cidadão e objetivo de viver) (2).

Essas e outras reflexões sobre dança, educação e contemporaneidade aconteceram na disciplina Arte como Tecnologia Educacional, componente do eixo pedagógico do Curso de Licenciatura em Dança da UFBA, que cursei como aluna especial durante o ano de 2008. Foi o inicio do meu processo de estruturação de uma proposta pedagógica para as danças de salão condizente com as propostas contemporâneas de educação e em consonância com os conceitos de corpo, dança e mundo.

Em seu texto “Metodologia para o Ensino de Dança: Luxo ou Necessidade?”, Isabel Marques diz que “os avanços na área de ensino da dança no país parecem ser ignorados pela grande maioria de artistas-professores, sugerindo a crença que a experiência artística determine a habilidade de ensinar”. Argumenta ainda que a utilização inadequada da terminologia da ciência educação por grande parte dos professores de dança é um dos fatores que revela o “despreparo pedagógico destes profissionais” e propõe uma comparação “geográfica” para a compreensão dessa terminologia, onde a didática seria o “mapa do território”, as metodologias as “vias de acesso”, os procedimentos metodológicos os “meios de transporte” para se chegar a um determinado local (objetivos) e os conteúdos as “cargas” que se quer transportar (3).

Salvo as peculiaridades de cada profissional, o processo de ensino-aprendizagem das danças de salão em Salvador têm como principal conteúdo seqüências de movimentos, denominadas “PASSOS”, que são transmitidos através da imitação, seja através da observação da própria imagem no espelho, seja pela observação da “estrutura correta” dos corpos de outro casal, e apreendida pela repetição dos mesmos. É comum nomear os “passos”, o que permite sua evocação verbal, ao mesmo tempo em que gera nomenclaturas regionalizadas, algumas vezes compreendidas apenas dentro de cada escola de dança.

Considerando os quatro pilares do conhecimento anteriormente citados, o objetivo maior da minha proposta pedagógica é capacitar o indivíduo para uma prática criativa e crítica das danças sociais a dois. Concordando que os alunos devem receber do professor “conhecimentos e incentivos para que possam experimentar e criar suas próprias danças” (3), organizei os conteúdos em três módulos: percepção corporal, percepção espacial e percepção musical. Durante os exercícios provoco reflexões sobre corpo, dança e mundo, a fim de promover a reconstrução crítica destes conceitos dentro da realidade da sociedade contemporânea e do contexto das danças de salão.

Elegi os princípios norteadores da metodologia “Dança no Contexto”, desenvolvida e proposta por Isabel Marques, como base para estruturar minha proposta pedagógica, a saber: problematização, criação de uma rede de conhecimentos, transformação dos conteúdos específicos da dança e postura crítica diante do mundo. Dessa forma, tenho substituído a imitação-repetição das sequências de movimentos pela proposição de problemas, utilizando não apenas recursos visuais, mas também táteis-cinestésicos, auditivos e metafóricos.

Minha prática pedagógica continua em permanente transformação e tem sido gratificante perceber transformações criativas nas práticas e críticas nos discursos de meus alunos sobre as danças sociais a dois.

REFERÊNCIAS

1. NAJMANOVICH, Denise. Para Novas Paisagens Educativas in “O Sujeito Encarnado – Questões para Pesquisa no/do Cotidiano”. Rio de Janeiro: DP&A, 2001

2. RODRIGUES, Zuleide Blanco. Os Quatro Pilares de uma Educação pra o Século XXI e Suas Implicações na Prática Pedagógica. Disponível em http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_lista.asp?artigo=artigo0056. Acesso em 13/11/2008

3. MARQUES, Isabel. Metodologia para o Ensino de Dança: Luxo ou Necessidade? in “Lições de Dança nº04”. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2003.

5 de abril de 2009

Somos Contemporâneos de Nosso Tempo? Parte I - Buscando novas terminologias

No final do ano de 2007, ao apresentar um anteprojeto para o mestrado em dança da UFBA me deparei com a necessidade de definir o objeto “Dança de Salão”. Da minha primeira tentativa surgiu o seguinte:
“Dança de Salão (no singular) é a categoria de dança executada por casais, constituída de subcategorias, conhecidas como RITMO...”
Pedi então ao amigo Hugo Leonardo, que na época cursava o mestrado em dança, que fizesse uma revisão crítica do anteprojeto. Dentre as suas valiosas contribuições, ele sinalizou que, tal definição incluiria uma gama de outras categorias de dança, como ballet, jazz e dança flamenca onde existam casais dançando. Esse questionamento marcou o início das minhas buscas por terminologias mais adequadas às escolhas conceituais da minha proposta pedagógica em dança de salão.
Comecei experimentando algumas mudanças. A primeira foi colocar o objeto de estudo no plural, já que ele comporta “subcategorias” dentro dele. O passo seguinte foi substituir o termo “categoria” por “configuração”, mais apropriado com o pensamento contemporâneo em dança. Busquei então reconhecer as características comuns entre suas linguagens (os tais “ritmos”). Por fim, decidi delimitar o ambiente onde o objeto acontece. E foi assim cheguei à seguinte definição:
“Danças de Salão (agora no plural) é o nome pelo qual é popularmente conhecida a configuração de dança, caracterizada pela execução por casais vinculados pelos membros superiores (abraço), comunicação interpessoal codificada e transmitida através do sentido tátil-cinestésico (pressão-movimento), deslocamento espacial (trânsito) e forte relação entre o repertório musical e coreográfico, seja para fins de exibição artística ou competitiva ou de entretenimento social.”
Me pareceu bom. Será mesmo? Algo ainda me dava uma sensação de que tal definição ainda não era representativa da sociedade contemporânea brasileira em que vivemos. Busquei então compreender o contexto histórico do surgimento das danças de salão.
Nascida na França do século XV, as “danças da corte” representavam o modelo de gênero da época, surgindo como uma estratégia “socialmente correta” para aproximar social e fisicamente homens e mulheres. Sua linguagem masculinista e heteronormativa pressupõe como “natural” o homem “conduzir” a mulher na dança, que, por sua vez, reluz a sua competência do seu condutor. Os bailes, que aconteciam com muito glamour nos salões dos palácios, se constituíam em oportunidade de avaliação das “qualidades desejáveis” dos “pretendentes ao matrimônio”, como educação, gentileza, segurança, virilidade, suavidade, submissão, etc. Seis séculos depois séculos os salões de bailes migraram dos palácios para os clubes e discotecas. Nestes ambientes as gerações se misturam. O repertório musical é bastante variado. Pessoas que dançam a dois dividem espaço com outras que dançam sozinhas ou em grupo. As “leis de trânsito” foram transgredidas em trajetórias caóticas. E ao contrário do que diz Tim Maia, cada vez mais vale “dançar homem com homem e mulher com mulher”.
A partir destas observações percebi que o nome “Danças de Salão”, ainda que no plural, não mais dava conta de representar a diversidade nas formas de se relacionar a dois em nossa sociedade atual. Quais as mudanças necessárias na forma de pensar esta configuração de dança dentro do nosso contexto? Somos contemporâneos de nosso tempo? Depois de muito quebrar a cabeça, elegi o termo Danças Sociais a Dois em substituição a Danças de Salão, que defino como:
“Danças Sociais a Dois, popularmente conhecida como danças de salão, é o nome da configuração de dança caracterizada pela execução por duplas (não necessariamente um homem e uma mulher) vinculadas pelos membros superiores (abraço), comunicação interpessoal codificada e transmitida através do sentido tátil-cinestésico (pressão-movimento), deslocamento espacial (trânsito) e forte relação entre o repertório musical e coreográfico.”
Entretanto, a cada “baile” que vou tenho observado as pessoas experimentando novos acordos, como dança entre pessoas do mesmo sexo, inversão dos papéis de condutor e conduzido, dança em trio ou revezamento de duplas durante a mesma música. E vislumbro que, num futuro não muito distante, sinto que será necessidade rever meus conceitos e terminologias, afinal, o tempo não para!