15 de dezembro de 2011

Confissões de uma zoukeira compulsiva

Eu sempre fui uma lambadeira. Uma lambadeira frustrada é verdade, pois quando a lambada foi uma febre no Brasil (1987-1992) eu era adolescente e dependia da autorização de meu pai para sair à noite, fato que raramente acontecia. Chorando se foi a lambada, mas o desejo de dançá-la continuou latente em meu corpo. Em 1999 ingressei no universo das danças de salão e elas se tornaram minha principal prática de dança até hoje, mas foi somente em agosto de 2006 que aconteceu meu reencontro com a lambada, agora repaginada e atendendo pelo nome de ZOUK.

O zouk pode acontecer dentro de bailes de ritmos diversos, mas o melhor momento sem dúvidas são as maratonas de zouk, com até 12h exclusivamente de puro zouk na veia, por até 5 dias consecutivos, a exemplo do Berg Congress realizado anualmente em Porto Seguro. Aqui em Salvador por enquanto as maratonas acontecem apenas uma vez por mês, com duração média de 8h.

Zoukeiros possuem comportamento obsessivo-compulsivo: para nós uma noite de zouk bem aproveitada significa “dançar todas” (as músicas), parando o estritamente necessário para ir ao banheiro, beber algo e beliscar uma coisinha à toa só para não desmaiar de hipoglicemia. Zoukeiro que se preza não recusa uma dança, nem mesmo se música que estiver tocando for ruim. Chega no começo, dança a festa inteira e, sempre que possível, sai no lixo. Troca suores, bate cabeça, faz cambret, (ate cabeça, faz cambret), se descabela (bate cabeça, faz cambret), contorce, retorce (bate cabeça, faz cambret), rebola, gira, sempre batendo cabeça e fazendo cambret, marcas registradas da dança. E haja coluna!

Devo confessar que meu grau de dependência física e psicológica de zouk é altíssimo! Meu status corporal pós-maratona é IMPRESTÁVEL (mas em compensação, a quantidade de endorfinas liberadas deve equivaler a 30 minutos de orgasmos múltiplos, se é que é possível sobreviver a isto!). Chegando em casa utilizo meu kit reparador: banho quente, fluído de massagem, um comprimido Dorflex e cama. Mesmo assim, pelo menos nos dois dias seguintes, sinto minha musculatura paravertebral democraticamente dolorida (de C1 a S1, embora mais intensamente nas regiões cervical e lombar), além de ombros e quadril (às vezes, também nos joelhos). Saldo de balanço: quebrada, mas feliz. E se no dia seguinte estiver rolando zouk, eu preciso estar lá! E haja Dorflex!

Até o presente momento nunca tive nenhuma lesão aguda. No entanto, tenho consciência de que esse quadro freqüente de dor pós-baile não é uma condição saudável a longo prazo. Dessa forma, quando em Estudos do Corpo IV me foi proposto investigar “COMO ME PREPARAR PARA”, não pensei duas vezes em trocar meu “kit de reparação corporal” por um treinamento para continuar dançando maratonisticamente o meu tão amado zouk brasileiro, que seja capaz não só de prevenir lesões, mas também de desenvolver minha expressividade.

Adeus Dorflex! E que seja o zouk “o nosso único remédio”. Sem contra-indicações ou reações adversas mesmo que usado em doses excessivas.

Anexo I da pesquisa "AXIAL ZOUK ou QUERO SER GRANDE ou ainda ADEUS DORFLEX", apresentado como IIª avaliação da disciplina Estudos do Corpo IV, sob orientação de Clara Trigo, Fafá Daltro, Patrícia Leal e Marcelo Moacyr em 2011-2

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