3 de abril de 2010

Estudos do Corpo I – Conhecendo o Corpo pelo Corpo e para o Corpo

O tempo parece passar mais depressa quando estamos vivendo bons momentos. Este é meu sétimo semestre como aluna especial da Escola de Dança da UFBA. Escrevendo este texto me dei conta de que, se tivesse tido ânimo para fazer o vestibular e tivesse sido aprovada, já estaria em vias de conclusão de curso. Lembro-me como se fosse ontem quando em 2007 me dirigi ao Núcleo Acadêmico para solicitar matrícula como aluna especial da graduação e fui recebida pela professa Adriana Bittencourt, que me propôs cursar uma disciplina do mestrado. “Mas eu não sou graduada em dança. Sou técnica em química, farmacêutica e especialista em saúde coletiva”. E com a maior simplicidade ela me respondeu que não importava a minha formação acadêmica desde que eu tivesse uma questão ligada à dança que desejasse investigar. E eu, na verdade, tinha, tenho e espero continuar tendo muitas questões a investigar!
Como já contei anteriormente, a dança sempre esteve presente na minha vida como atividade física e entretenimento. Desde criança, o movimento sempre foi minha principal forma de expressão. Aos sete anos de idade fui rejeitada no ballet clássico porque me consideraram “pequena demais para a idade”. Apesar de frustrada fui me inserindo em outros tipos de expressão artística, como jazz, ginástica rítmica, dança afro, dança do ventre, teatro e canto. Em 1999 as danças de salão entraram em minha vida como lazer e em 2002 como prática pedagógica. Em 2004 conheci o contato de improvisação. Acredito que essa miscelânea de vivências acadêmicas e artísticas contribuiu para a elaboração de certos questionamentos em relação às danças de salão. A partir de 2006, mesmo sem conhecimentos teóricos específicos, comecei a aplicar os diversos conhecimentos adquiridos na dança e na vida no meu corpo e na minha prática pedagógica.
Então, em 2007 ingressei como aluna especial na Escola de Dança da UFBA a fim de fundamentar e transformar minha prática pedagógica em dança. Cursei as disciplinas Danças Populares: Padrões em Evolução, Dança e Cognição (mestrado), Laboratório de Corpo e Criação Coreográfica I, Arte como Tecnologia Educacional I e II (graduação), além de Música e Ritmo, Laboratório de Corpo e Criação Coreográfica II e Sexualidade e Performance (esta última da pós-graduação em artes cênicas), das quais participei como ouvinte. Durante o segundo semestre de 2008 tive também a oportunidade de investigar juntamente com o professor David Iannitelli as interfaces possíveis entre o contato de improvisação e as danças de salão.
Por sugestão do professor Antrifo Sanches, este semestre solicitei matrícula como aluna especial na disciplina Estudos do Corpo I do recém-nascido curso noturno de Licenciatura em Dança da UFBA, ministrada pela dupla Lenira Rangel e Gilsamara Moura. Em apenas um mês tive a oportunidade de experimentar algumas técnicas de corpo (como ballet clássico, Cunningham e power yoga) com uma abordagem muito particular: a ênfase no processo, no fazer, o que tem me permitido total liberdade para observar, corrigir, perceber meus limites, expor minhas dúvidas, debater idéias. Ainda que a técnica se repita, as aulas tem sido únicas, sempre repletas de descobertas para mim. Cada aluno é respeitado em seus limites e possibilidades. Não é cobrado nenhum tipo de virtuosismo. Acredito que os meus 36 anos me dão o posto de “a mais velha da turma”. E mesmo não estando na melhor das formas, me sinto acolhida tanto pela turma como pelas professoras. As aulas também visam melhorar o condicionamento físico e, apesar de sair exausta quase todos os dias, tenho me sentido muito bem disposta. É o que me encoraja a enfrentar o engarrafamento do final de tarde quatro vezes por semana. Tem valido (e muito) a pena!
Ainda temos três meses de experimentações e descobertas pela frente. Mas escrevo este texto com uma certa nostalgia, pois essa é a última disciplina da graduação que poderei pegar como aluna especial na UFBA. Mas como bem diz o ditado “a esperança é a última que morre”: com dedos cruzados, santos e orixás estão a postos, aguardo ansiosa pela abertura de vagas residuais para a Licenciatura em Dança, as quais pretendo me candidatar como portadora de diploma. Caso minhas preces sejam atendidas, pretendo prosseguir fundamentando minha prática artística e pedagógica em dança, em especial buscando aproximar as danças de salão do contexto contemporâneo corpo, dança e mundo.