27 de dezembro de 2009

Samba-Rock: A Arte Paulistana de Trançar os Braços

A primeira vez que ouvi falar em samba-rock foi em junho de 2007, quando li a dissertação de Vagner Rodrigues1. Estive em Sampa em novembro de 2007 e em junho de 2008, mas não consegui descobrir os seus “esconderijos dançantes”. Os paulistanos praticantes de dança de salão sabiam da sua existência, mas não faziam idéia de onde se poderia dançá-lo. É curioso imaginar que uma dança apreciada e dançada por milhares de paulistanos seja desconhecida no Brasil e também na própria cidade, tendo sido ignorada pelos meios de comunicação por quase quatro décadas.

E assim ele continuou para mim como uma “referência teórica” até agosto deste ano, quanto tive eu primeiro contato “físico”. Isso só foi possível graças à comunidade Eu Danço Samba Rock do Orkut (bendito Orkut!). Tomei a liberdade de me apropriar de informações da referida dissertação, inserindo minhas experiências pessoais para escrever este texto, uma forma que encontrei para homenagear essa manifestação da cultura popular paulistana e que dedico a todos os membros da comunidade, pelo carinho com que me receberam e pela paciência em responder as minhas muitas perguntas.

O samba-rock é fruto de uma mistura entre o samba e o rockabily. Ele surgiu na década de 60 nos bairros com alta concentração de população negra da capital paulistana. É preciso que fique claro que O SAMBA-ROCK É UM JEITO DE DANÇAR e não um gênero musical. Reza a lenda que tal forma de dançar surgiu quando tocaram um arranjo “sambeado” que Valdir Calmon fez para a música Rock Around The Clock, de Bill Haley. “O pessoal ficou confuso, não sabia se dançava rock, se dançava samba. Então, partiram para dançar rock, só que com outro jeito. Eles trançavam os braços como no rock, só que nos pés eles criaram um swing diferente”.1

O nome “samba-rock” só apareceu nos anos 70, quando os bailes eram divididos em branco e black. Nos primeiros tocavam as orquestras e, devido ao valor dos ingressos, freqüentado pela elite social. Já nos bailes black, as músicas, bastante variadas, eram tocadas em toca-discos de vinil, o que os tornava mais acessível à população. Assim como acontece com o soltinho e o lambazouk, ele aceita um repertório bastante variado, que inclui swing, rithm blues, jazz, partido alto, baladas dos anos 60, country, mambo e até bossa nova.

As músicas usadas nas trilhas sonoras dos bailes não foram compostas para o samba-rock. Curiosamente, a maioria de seus compositores e cantores jamais ouviu falar em samba-rock, apesar de sua música fazer sucesso nesses bailes. A construção da trilha sonora dos bailes de samba-rock é atribuída aos DJs, profissionais que até hoje pesquisam sonoridades musicais possíveis de serem dançadas como samba-rock, como Tony Hits, Loo, Grego, Miriti, Tadeu e Paulão. A partir de 2000 surgiram as bandas de samba-rock, que hoje compõe especialmente para o público dançante, como Clube do Balanço, Na Esquina, Sambasonics, Farofyno, Sandália de Prata e Os Opalas.

Em agosto de 2009 tive a oportunidade de conhecer “corporalmente” um pouco desse universo paulistano. Primeiramente fui ao Hotel Cambridge, onde Às quartas-feiras acontece o Clube do Samba Rock, projeto que une as aulas de samba rock dos professores Moskito, Marcelo Male e Willian Diaz em parceria com o DJ Tony Hits no comando das pickup e que, para o meu deleite, comemorava o seu terceiro aniversário (com direito a bolo e parabéns!). Animadíssima com a experiência no dia seguinte fui a uma aula na Vitrine da Dança da Galeria Olido. Terminada a aula, fui direto para o Shopping Light, tendo sido a primeira a chegar para o tão esperado encontro com a turma sambaroqueira da comunidade orkutiana.

Diferente de tudo que já experimentei nas danças sociais a dois, no samba-rock todo o corpo se adapta em função do deslocamento das mãos e dos braços. Através dos giros e rodopios (quando o corpo gira e ao mesmo tempo se desloca lateralmente), os braços do casal se cruzam e se torcem de diversas maneiras; nós são feitos e desfeitos com torções e enlaces que acontecem no tronco, no pescoço e no quadril. As articulações dos braços, ombros, mãos e dedos se dobram e redobram, chegando ao máximo grau de entrecruzamento, para, logo em seguida, se desfazerem com novos rodopios e desenlaces.

Estes movimentos acontecem sem interrupção e compõem continuamente um mosaico de figuras móveis que se interpenetram umas nas outras. O tronco se torce à frente, atrás e ao lado, com curvas que dão aos braços maiores possibilidades de encaixe. Toda a condução dos passos se dá pelo leve contato entre as superfícies das mãos, que deslizam umas nas outras como eixos e dão às articulações dos braços e ombros graus de liberdade que favorecem seus enlaces e permitem os giros e rodopios do corpo.

Outra peculiaridade do samba-rock: sua base de deslocamento se dá em sentido oposto (isso mesmo, enquanto um vai para a esquerda, o outro vai para a direita). A mulher se desloca lateralmente, afastando e unindo as pernas, ou rodopiando seu corpo e marcando o compasso da música em quatro tempos. Com esta base rítmica (que geralmente não se altera do início ao final da música), ela se desloca à frente, atrás e ao redor do homem. Ele se desloca no sentido contrário ao movimento dela, transferindo e variando os apoios dos pés sem necessitar acompanhar a cadência do tempo musical da mesma forma que ela. Com movimentos à tempo e à contratempo, o homem se aproxima e se distancia, gira em seu eixo corporal, rodopia e se desloca ao redor dela.

Em conseqüência disso é muito difícil ser pisoteado num baile de s

ambar-rock. Em compensação...HAJA CASCUDO! De cotovelo, mão e até cabeça. Sem contar os momentos de angustia em que seu parceiro “some” atrás de você ou naqueles em que você sente vai dar um nó de marinheiro com os braços, mas...não é que deu tudo certo, como se fosse a coisa mais óbvia do planeta? E isso tudo acontece em deslocamentos de mesma duração de tempo, ou seja, sem pausa. Haja fôlego! Atualmente coexistem pelo menos quatro estilos de samba-rock: o “tradicional” ou “das antigas”, o “trançado”, o “estrela” e o “refinado”.

A história do samba-rock ainda está nos chamados “bailes da nostalgia”, freqüentados por pessoas da periferia na qualidade de uma opção de lazer. Entretanto, a partir de 2000 o samba-rock ganhou espaço também nas baladas freqüentadas pela classe média, em lugares como o Graze a Dio, Di Quinta e Mood Club e nas escolas de dança. Antes disso, “as pessoas treinavam em casa, chegando até mesmo a utilizar a porta como parceira. Empurrando a porta de um lado a outro os homens simulavam o deslocamento da mulher durante a dança. Outro aparato utilizado eram as argolas que puxavam as cortinas. As duas argolas simulavam os braços da mulher”. 1

Conhecer o samba-rock é uma forma de conhecer São Paulo por um outro viés. É uma história que fala do não-conhecido, do não-oficial e que, justamente por isso, representa um traço cultural da cultura paulistana.1 O contato com esse universo, embora tão curto, foi suficiente para ganhar minha simpatia e adesão. Desse momento em diante o samba-rock será sempre incluído nas minhas visitas a Sampa.

REFERÊNCIAS

1. RODRIGUES, Vagner. Fora da Mídia e Dentro do Salão: Samba-Rock e Mestiçagem. São Paulo: PUC (dissertação de mestrado), 2005.

SITES RELACIONADOS

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=3383099

http://sambarocknaveia.blogspot.com/

http://www.sambarock.com.br/

http://www2.uol.com.br/tonyhits/index1.html

http://www.professormoskito.com.br/

Trançando os Braços no Samba-Rock

Demonstração de samba rock com Claudio Nostalgia e Erika Alves no Clube do Samba Rock, projeto dos professores Moskito, Magoo, Cláudio em parceria com o DJ Tony hits (SESC Araraquara/SP).

24 de dezembro de 2009

Projeto Diálogos no Escuro: metodologia não visual para as Danças Sociais a Dois

A visão se apresenta na nossa realidade física e social como o sentido de maior importância na captação de estímulos e projeções espaciais. Estima-se que aproximadamente 80% de nossa percepção do mundo seja visual. Durante muito tempo acreditou-se que a cognição dependia essencialmente da visão, ou seja, de que era imprescindível ver para aprender. 1

O meu desejo de experimentar metodologias não visuais para o ensino da danças sociais a dois surgiu pela primeira vez durante um exercício de improvisação por contato no Curso de Aperfeiçoamento para Professores de Dança de Salão promovido pelo Centro de Dança Jaime Aroxa (RJ) em 2002, quando foi solicitado aos participantes que fechassem os olhos. Percebi que a privação da visão aguçou os meus outros sentidos, principalmente o tato. Desse dia em diante, passei a adotar como prática fechar os olhos enquanto danço.

Em novembro de 2007 visitei o Museu do Diálogo (Campinas/SP), projeto do alemão Andreas Heinecke que proporciona a indivíduos videntes a vivência de situações cotidianas em uma área completamente escura. Durante uma hora e meia os visitantes, com auxilio de uma bengala-guia, percorrem os cinco ambientes da instalação, experimentando as diferentes sensações de vento, odores, temperaturas, sons e texturas, ao mesmo tempo que se confrontam com suas próprias limitações. E a melhor parte da história: cada grupo é guiado por um deficiente visual, que NÃO USA BENGALA DURANTE O TRAJETO!

Entrei sozinha, tensa, braço direito arrastando na parede, braço esquerdo esticado segurando a bengala-guia o mais longe possível, concentrada em não tropeçar. Encontrei meu guia lá dentro e juntos atravessamos um bosque (com árvores e chão de terra), uma mini-cidade (com direito a chão esburacado, semáforo e buzinas de carros), um lago (num simulador de barco) até chegar ao penúltimo ambiente, uma sala acarpetada onde meu guia sugeriu que eu relaxasse. A esta altura meu êxtase era tamanho que eu soltei a bengala e dancei! Com cautela, porém sem medo. Depois partimos para o Diálogos no Escuro, um bar onde se pode comprar bebidas e petiscos para beliscar durante o bate-papo com o guia.

Esta inesquecível experiência foi determinante para fortalecer em mim o desejo de desenvolver uma metodologia destituída do recurso da imitação visual, promovendo assim uma maior utilização dos demais sentidos corporais nas danças sociais a dois, o que veio a se concretizar durante o módulo Arte como Tecnologia Educacional II, do curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal da Bahia, sob a forma de uma breve atividade extencionista orientada. O Projeto “Diálogos No Escuro - Metodologia Não Visual para o Ensino das Danças de Salão” foi construído em parceria com Cristiane Passos e Daniele Denovaro. Escolhemos trabalhar com portadores de deficiência visual para que a impossibilidade de imitação visual destas pessoas nos motivasse a investigar procedimentos metodológicos não visuais (especialmente táteis-cinestésicos, auditivos e metafóricos).

A deficiência visual é definida como a perda ou redução da capacidade visual em ambos os olhos em caráter definitivo, que não possa ser melhorada ou corrigida com o uso de lentes, tratamento clínico ou cirúrgico. 2 Entretanto, no âmbito social a cegueira tem um sentido de invisibilidade maior do que de escuridão. A desorientação espacial provocada pela privação da visão prejudica a mobilidade do deficiente visual, fazendo com que a sociedade o considere desajeitado e inábil para diversas atividades. Por orientação espacial entende-se a “capacidade de reconhecimento da posição corporal em relação com todos os objetos significativos do seu meio circundante” e por mobilidade a “capacidade de deslocamento do ponto em que se encontra o indivíduo para alcançar outra zona do meio circundante”. 3

O projeto aconteceu durante as quatro quartas-feiras do mês de novembro de 2008 no Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual (CAP), no bairro de Nazaré (Salvador/BA), fundado em 1998 e subordinado à Secretaria Estadual de Educação. As aulas de danças de salão se iniciaram em 2004 como iniciativa voluntária e espontânea do professor Fábio Martins. Desde abril de 2008 a atividade foi assumida por Gilmara Carvalho, professora e dançarina da Academia Baiana Dança de Salão, que gentilmente nos cedeu suas aulas durante o mês de novembro.

As aulas tiveram, em média, 11 participantes, na faixa etária de 40 a 65 anos, com um pequeno excedente de homens. O grupo mostrou-se bastante inquieto e falante, com percepção tátil-cinestésica e auditiva aguçada. A utilização de metáforas do cotidiano se revelou de grande eficiência como procedimento metodológico. Nos exercícios que propunham deslocamento aconteceram choques que permitiam o reconhecimento entre os participantes (através do toque e da fala), resultando em saudações amistosas.

Apesar do pouco tempo, pudemos perceber a evolução da turma, com abertura para a desconstrução de alguns tabus em relação à detenção do poder de escolha (condução), a necessidade de se ter um corpo específico, uma postura pré-concebida e uma consciência rítmica adequada para a dança. Em momento posterior, alguns participantes referiram grande satisfação pelo sentimento de superação. Para nós, facilitadoras, o projeto foi um exercício pedagógico importante. Esperamos que ele tenha contribuído para o desenvolvimento motor e psico-social dos participantes.

REFERÊNCIAS

1. OLIVEIRA, João Vicente Ganzarolli. Arte e Visualidade: A Questão da Cegueira. Disponível em http://www.ibc.gov.br. Acesso em 16/10/2008

2. http://www.ibc.gov.br. Acesso em 14/10/2008

3. SANTOS, Admilson. O Cego, O Espaço, O Corpo e O Movimento: Uma Questão de Orientação e Mobilidade. Disponível em http://www.ibc.gov.br. Acesso em 16/10/2008

23 de dezembro de 2009

Gafieira com os Gêmeos Geniais

Eu com meus queridos e geniais amigos Isac e Isaias Silva sem medo de experimentar na gafieira durante o baile-aula do ASBAC. Meninos, eu amo a irreverência de vocês!

21 de dezembro de 2009

Teste dance-drive da minha nova sandália

Unindo o útil (o piso da sala da Escola de Dança da UFBA) ao agradável (a competência de Marcos Affonso) para testar minha nova e linda sandália Vizzano. Aprovada com restrições de piso e ritmo! (rsss)

Zouk com Paulinho

Esse clip é uma homenagem a este parceiro de zouk maravilhoso, sempre disposto a experimentar novos movimentos a partir do improviso. Que os belgas o recebam de braços abertos e disfrutem o seu talento. Um grande abraço e até a volta!