22 de dezembro de 2011

AXIAL ZOUK ou QUERO SER GRANDE ou ainda ADEUS DORFLEX: parte II

No momento atual venho pesquisando uma atividade de manutenção, buscando uma melhora global do condicionamento físico, definido como “a capacidade de realizar atividades físicas” (MANUAL MERK), cujo progresso se traduz no “aumento da capacidade de se exercitar por mais tempo sem sentir desconforto ou dores musculares”. A professora Carla Leite (2007) acredita que o condicionamento físico é tão importante para os dançarinos quanto à prática das diferentes técnicas de dança. Segunda ela, pode-se observar “o pouco interesse no condicionamento físico entre os dançarinos, sendo a falta de força muscular e resistência cardiovascular os componentes mais críticos” (LEITE, 2007). Apesar da dança trabalhar mais o componente de coordenação neuromuscular, ela acredita que “um treinamento suplementar dos demais componentes melhora o desempenho e reduz lesões, sem interferir com os requisitos artísticos e estéticos” (LEITE, 2007).

No dia 06/11/11, convidei minha colaboradora Daniele Denovaro a ir comigo no II Samba & Zouk para que se apropriasse um pouco do meu contexto dançante, conhecendo e analisando a minha forma de dançar e que também pudesse experimentar dançar zouk. Denovaro observou que, diferentemente das demais danças de salão, o zouk é tridimensional, ou seja, utiliza a combinação dos planos frontal, sagital e transversal em seus movimentos. Para ela, “o zouk exige do dançarino grande mobilidade de coluna com forças bem distribuídas em todos os segmentos vertebrais. É uma dança que ondula, gira, circula bastante a coluna em diversas combinações de plano de movimento”.

Segundo Leite (2007), a coluna vertebral é encarregada de duas funções contraditórias: sustentar e mover. Isoladamente, as articulações intervertebrais apresentam mobilidade discreta, porém a soma dos movimentos individuais resulta em uma mobilidade geral apreciável, sendo a região cervical a que possui maior mobilidade, e a dorsal a que tem menor amplitude de movimento. Leite (2007) relata também que a prevalência de lesões na coluna tem sido na região lombar.

“A prática da dança requer movimentos repetitivos e, por vezes, de amplitudes extremas das articulações da coluna em todos os planos, ou seja, na extensão, flexão, inclinação lateral, rotação e na combinação dessas ações. A maioria das lesões na coluna, como a maioria das lesões na dança, pode ser atribuída ao estresse repetitivo destes movimentos aliado a um alinhamento inadequado. Outra causa freqüente dos problemas na coluna entre dançarinos está associada a músculos fracos nesta região, em particular os abdominais. Micro-traumatismos repetitivos podem ocorrer devido a uma carga assimétrica nas estruturas articulares e tecidos moles, durantes movimentos de amplitude máxima”. (LEITE, 2007, p.116)

Para evitar danos nas partes mais móveis da coluna (C6-T1 e L4-S1), Denovaro me recomendou um treino sistemático e progressivo na complexidade de combinações motoras. “Dançar zouk exige um corpo móvel, forte e extremamente flexível para uma execução menos lesiva. Vendo Evie dançar, percebo uma má distribuição de peso ao longo de toda coluna e insuficiente alongamento axial, além da necessidade de fortalecimento da musculatura abdominal.” Ela acredita que a prática do Gyrokinesis® e Gyrotonic Expansion System® seja a mais adequada para trabalhar meu condicionamento físico para o zouk.

Experimentei com Denovaro alguns movimentos de Gyrokinesis sentada no banco. Embora o termo “alongamento axial” fosse novo para mim, informações como “crescer” e “projetar” já fazia parte das aulas de balé clássico e dança moderna, mas confesso que a sugestão de “respirar pelas articulações” de Denovaro foi para mim o cúmulo da abstração. Porém, quando a mesma traduziu essa instrução sob a forma de toques pelo meu corpo, o alongamento axial fez-se carne! O toque faz parte do meu contexto dançante, visto que as danças de salão acontecem a partir dos toques (seja dos pés que se deslocam pelo salão, seja do contato com o corpo do parceiro). Assim sendo, passei a me perguntar: já que o alongamento axial pode ser estimulado através de toques, seria possível desenvolver uma técnica de zouk que promovesse o alongamento axial?

Meu projeto de manutenção tem como meta aulas de Gyrokines® ( 1h, 2x semana ) e de Gyrotonic Expansion System® ( 1h, 1x semana ). Para isso, é necessário um investimento mensal de R$ 290 – 500, o que representa atualmente um grande impasse para sua viabilização. Convencer alguém para dividir a aula de Gyrotonic será uma das estratégias utilizadas. A outra será tentar negociar uma redução no valor da mensalidade com a Phisiopilates via Daniele Denovaro. Enquanto as aulas de Gyrotonic Expansion System® não se tornam uma realidade, pretendo o quanto antes começar as de Gyrokines® com Denovaro. Outras questões que possivelmente só poderei responder com algum tempo de prática são: os sistemas Gyro me proporcionarão a soltura articular que tanto desejo para a minha dança? Será também suficiente para o fortalecimento abdominal?

No encerramento parcial desta pesquisa, reflito sobre o interesse de Fortin (2003) por pedagogias que questionem as fontes tradicionais de saber, aquelas que nos convidam a nos tornarmos experts de nós mesmo, interrogando e analisando nossa própria experiência e integrando os conhecimentos da tradição com aqueles provenientes do próprio percurso pessoal.

“A pessoa, ao se apropriar de seu próprio corpo como fonte de saber, torna-se menos vulnerável ao exercício do poder de outra pessoa sobre ela (...) meu corpo/eu é a expressão de meu duplo percurso artístico e cotidiano, sócio-cultural e pessoal, e se revela meu primeiro espaço de liberdade para desfazer pressões”. (Fortin, 2003, p.170-171)

Adeus Dorflex®! E que, apesar das superdosagens, seja o zouk “o nosso único remédio”.

AO PERSISTIREM OS SINTOMAS, ESTA PC DEVERÁ SER REAVALIADA

Bibliografia Consultada

BLANDINE, C.G. Tronco. In: Anatomia para o movimento, volume I: introdução à análise das técnicas corporais. Tradução de Sophie Guernet. São Paulo; Manole, 1991. p.29 - 100

COOPER, K. H. O efeito do treinamento. In: Aptidão física em qualquer idade: exercícios aeróbicos. Belo Horizonte: Fórum, 1972. p. 94 – 118.

DANTAS, M. F. Movimento: matéria-prima e visibilidade da dança. Revista Movimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, v. 4, n. 6, p.51 -60, 1997.

FORTIN, S. Transformações de práticas de dança. In: Pereira, R. Lições de Dança 4. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2003, p.161 – 173.

GERALDI, S. Representações sobre técnicas para dançar. Nora, S. Húmus 2. Caxias do Sul: LoriGraf, 2007.

LAUNAY, I. O Dom do gesto. In: Greiner, C. Leituras do corpo. São Paulo: Annablumme, 2010. p.81 – 104.

LEAL, P. Amargo Perfume: a dança pelos sentidos. 2009. 227f. Tese (doutorado em Artes) - Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2009.

LEITE, C. F. Uma cartografia das lesões na dança. In: Eficácia de um programa de treinamento neuromuscular no perfil álgido e na incidência da dor femoropatelar entre dançarinos. 2007. 131f. Tese (doutorado em Artes Cênicas) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, 2007. anexo 6, p. 90 – 117.

LEITE, P. F. Bases científicas do condicionamento físico. In: Aptidão física, esporte e saúde. São Paulo: Robe, 1985. p.32 – 35

MANUAL MERCK SAÚDE PARA A FAMÍLIA. Exercício e Condicionamento. Seção 5, Cap.58. Disponível em <http://mmspf.msdonline.com.br/pacientes/manual_merck/secao_05/cap_058.html>Acesso em 14/11/11.

PELTIER, C. História da Lambada. Disponível em: <http://www.dancadesalao.com/agenda/index.cgi?x=lsthistorialambada> Acesso em 21/09/2011

RENGEL, L. Fundamentos para a análise do movimento expressivo. In: MOMMENSOHN, M; PETRELLA (Org.). Reflexões sobre Laban, o Mestre do Movimento. São Paulo: Summus, 2007. p. 121 – 130.

SENNET, R. O Artífice. Rio de Janeiro: Record, 2009. cap.5 e 6, p.169 – 216.

Segunda parte da pesquisa "AXIAL ZOUK ou QUERO SER GRANDE ou ainda ADEUS DORFLEX", apresentado como IIª avaliação da disciplina Estudos do Corpo IV, sob orientação de Clara Trigo, Fafá Daltro, Patrícia Leal e Marcelo Moacyr em 2011-2

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