18 de setembro de 2010

Damas de Ouro

Malaquias e a Maratona das Vagas Residuais

No primeiro semestre de 2010 esgotei minha cota de disciplinas como aluna especial da graduação (a UFBA permite cursar até seis disciplinas da graduação, não importando o curso). Como há muito tempo venho enchendo o saco do universo, eis a notícia mágica: pela primeira vez, a Escola de Dança abriria vagas residuais! Foram disponibilizadas apenas 6 vagas e a prioridade sempre para alunos de outro curso que desejem fazer transferência interna. Continuei enchendo o saco do universo e mais o vez ele conspirou a meu favor: nenhuma solicitação de transferência interna!

Fiz minha inscrição e outra boa surpresa: penas 6 canditados inscritos, ou seja, concorrência 1:1. Só se eu zera-se uma das três avaliações e isso, é claro, eu não deixaria acontecer. Sim, três avaliações. A primeira estava marcada para o dia 27/06 (pela tarde, graças a Deus!) e se constituía de uma redação, além de 35 questões V/F sobre a área de dança. Cada erro, além do ponto não conquistado, valia – 0,5pts. Sinceramente, não acho um critério justo, mas fazer o quê? Vestibular seria uma maratona pior, eu imaginava. Veja abaixo o conteúdo programático:

Objetivos gerais: Avaliar os candidatos acerca dos conhecimentos sobre processos e configurações artísticas em dança, identificando os diferentes modos de constituição existentes e refletindo sobre o corpo e suas proposições criativas sob perspectivas sociais, políticas, filosóficas e científicas, atualizando a compreensão da dança no contexto contemporâneo.

Conteúdo Programático

1. Dança e criação – a construção da obra de arte ( 1.1 Redes; 1.2 Working in progress; 1.2 Formatividade da obra de arte)

2. Dança como pensamento do corpo (2.1 – Corpomídia; 2.2 – Metáforas no/do corpo)

3. Dança e Identidade (3.1 - Processos identitários; 3.2 – Noção de pertencimento: local e global; 3.3 – Dança e hibridismo cultural)

Bibliografia

COHEN, R. Working in Progress na Cena Contemporânea.

DAMÁSIO, A. R. O erro de Descartes. Companhia das Letras, São Paulo, 1996.

__________________. O mistério da consciência. Companhia das Letras, São Paulo, 2000.

GREINER, C. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. Annablume, São Paulo, 2005.

KATZ, H. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. FID, Belo Horizonte, 2005.

Com exceção do tópico 2, o resto era novidade para mim. Na manhã do dia 29/06 aconteceria a prova de prática e no dia 30/06, a prova de análise textual”, segundo descrição abaxo.

A avaliação constará de uma prova prática, com duração máxima de quatro horas, na qual serão observadas, através de experiências individuais e coletivas, a habilidade e a capacidade criativa do candidato no desenvolvimento de ações coreográficas em dança e de uma prova de análise textual, com duração máxima de quatro horas, cujos textos, que abordarão o universo da dança, estarão disponíveis no site da Escola de Dança da UFBA, com antecedência mínima de duas semanas em relação à data das provas. Serão disponibilizados três textos para leitura, dentre os quais, será escolhido, no dia da prova teórica, através de sorteio, apenas um deles para ser analisado.

Dia 17/06 a noite foi a apresentação da nossa coreografia no XIV Painel Performático. No dia seguinte estive na Escola de Dança em busca dos textos para a última avaliação. Vale ressaltar que estava acontecendo a ocupação Zé Celso, e a confusão era total. Os textos ainda não estavam disponíveis para fotocópia, mas um funcionário me mostrou que já havia colocado o link no site da Escola. Fiquei tranqüila e fui fuçar as pastas das disciplinas lá na xérox da Escola de Veterinária. Encontrei apenas o texto da Helena Kartz (cujo livro tentava comprar e não conseguia) na pasta do mestrado e fiz uma cópia. Chegando em casa, fui pesquisando na internet e levei o primeiro choque: o link continha apenas a referência dos textos para a prova de análise textual e não os arquivos, como eu esperava. Apelei para o google mas achei apenas algumas resenhas e comentários, porém nada sobre os textos da última avaliação, que eram os seguintes:

BRITTO, Fabiana. Carta de Des/Intenções; Canteiro de Obras; Como é o que Existe; Trajetória Histórica não é Processo Evolutivo; IN:Temporalidade em Dança: parâmetro para uma história contemporânea. Belo Horizonte: FID Editorial, 2006.

VIEIRA, Jorge. Teoria do Conhecimento e Arte. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora, 2006 .

KATZ, Helena. Três Três Três IN: A Dança é o Pensamento do Corpo. Belo Horizonte: FID Editorial, 2005 .

Dia 18/06 comecei um processo gripal, que ainda que leve, comprometeu a minha disposição para os estudos. E assim passei meu feriado junino: em casa, lendo nos momentos em que a gripe deixava. Chega o dia 27/06. Com um campos tão grande, não sei porque a UFBA escolheu o Pavilhão de Aulas do Canela, onde é um tanto complicado para estacionar. Não pensei que haveria tanta gente. Na minha sala estavam reunidos os candidatos a uma vaga nos cursos de dança, música, teatro e artes visuais.

Minhas buscas na internet não foram em vão. Das 32 questões que respondi errei apenas uma, logo fiz 30,5pts (87%). O tema da redação foi “solidão”. Não entendi porque não deixaram a gente levar a prova, já que no dia seguinte sairia o gabarito. Bom, coisas da UFBA! No dia 29/07 lá vou eu, com o corpo ainda dormindo, fazer a prova prática (logo pela manhã. Socorro!). Um dos candidatos havia desistido. Tentando dissimular minha indisposição matinal, lá fui eu junto com os outros quatro, três garotas e um rapaz. A prova prática, apesar de cansativa, foi muito bem elaborada. Na hora da composição coletiva eu desejei que ninguém escolhesse se jogar no chão, mas foi pedir demais! No final do dia a banca nos orienta a trazer os três textos no dia seguinte, pois a prova seria feita com consulta de material. “MAS ONDE ESTÃO ESTES TEXTOS QUE EU PROCUREI E NÃO ACHEI?” Estão na portaria da Escola, me disse uma das alunas.

Sai como louca, peguei os textos e fui xerocar. Só que o dinheiro que eu tinha não era suficiente e eu tive que implorar para que abrissem uma exceção e me fizessem fiado que eu pagaria no dia seguinte, que era caso de VIDA ou MORTE! Deu 100 folhinhas, isso com letra pequena. Tudo bem, leio agora a tarde. Mas o resto da gripe e o desgaste físico fizeram com que eu me entregasse nos braços de Morfeu (ronc...ronc). E já que a prova seria com consulta, resolvi deixar para ler na hora da prova.

No dia seguinte, já na sala a coordenadora entra dizendo que o texto seria escolhido por sorteio, mas que não seria permitido consulta, conforme orientação da banca no dia interior. GELEI! Argumentei o que havia ocorrido, que dia 18/06 o texto ainda não estava disponível, etc, etc, etc. De nada adiantou. A coordenadora lamentou e me orientou a entrar com recurso caso me sentisse lesada. Comecei a me sentir mal, num misto de desespero, raiva, desilusão. Só me restava contar com a sorte. Eu tinha uma chance em três de não zerar a prova. Apelei com fé e...”O TEXTO SORTEADO FOI O DA HELENA KARTZ”. Salva pelo gongo!Quase chorei/gritei/pulei/dancei de alegria. Final (feliz) da história: todos os cinco candidatos aprovados! Fiquei em terceiro lugar, mas ficaria igualmente contente com o último!

“E Malaquias então cortou o galho, pegou o seu docinho de banana-da-terra, comeu muito satisfeito, lambeu os beiços...e só depois resolveu voltar para casa.”