24 de fevereiro de 2010

Eu Vou Te Contar Que Você Não Me Conhece - VERSÃO REDUX

Versão reduzida da coreografia construída coletivamente pela turma 03 a partir dos experimentos propostos pela turma 03 do Laboratórios de Corpo e Criação Coreográfica I, disciplinas do curso de Licenciatura em Dança da UFBA, sob orientação de Antrifo Sanches e Fernando Passos, durante o primeiro semestre de 2009.

A cena original teve duração de 40 minutos e participação de 16 dançarinos co-criadores. Foi apresentada no Teatro do Movimento durante o XIII Painel Performático da Escola de Dança da UFBA, no dia 16 de julho de 2009.

A edição foi feita utilizando o Windows Movie Make e, para isso, as imagens originais captadas e gravadas em DVD por Giltanei Amorim foi reproduzida no Windows Media Player e as imagens do monitor foram gravadas com câmera fotográfica. Daí a baixa qualidade das imagens. Mas vale como registro e divulgação desse processo de construção coletiva de uma cena de dança contemporânea.

Agradeço a todos que tornaram possível este trabalho.
Painel Performático Evie Souto Laboratórios de Corpo e Criação Coreográfica Licenciatura Dança UFBA.

“Eu não sou eu, nem sou o outro
Sou qualquer coisa de intermédio
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o outro”

(O Outro, poema de Mário de Sá Carneiro)

22 de fevereiro de 2010

Dançando Idéias: Vivenciando um Processo Criativo em Dança Contemporânea - Parte II – Uma construção coletiva

Dando continuidade à trilogia DANÇANDO IDÉIAS, dedico essa segunda parte às minhas experiências enquanto aluna da turma 03 dos Laboratórios de Corpo e de Criação Coreográfica I durante o primeiro semestre de 2009.

Após o processo de realocação, 17 alunos optaram pela turma 03, cuja proposta era gerar discussões e experimentos em torno do tema gênero e sexualidade: Alana Falcão, Ana Flávia Cazé, André Marinho, Carol Falcão, Diego Vitorino, João Miguel, Joélia Rocha, Joline Andrade, Loraine Brito, Maria Paula Marocci, Mayana Magalhães, Natália Matos, Natália Rosa, Simone Gonçalves, Thiago Bittencourt, Victor Hugo Paiva e EUZINHA, claro, toda feliz e contente! Logo de cara decidimos construir um blog para arquivamento virtual da “produção criativa e intelectual” da turma, a ser alimentado com as discussões e os relatos do nossos experimentos de investigação coreográfica. Começavam assim as atividades do GRANDES LÁBIOS! (http://grandeslabs2009.blogspot.com/)

Além de muita leitura e discussão, fizemos exercícios de observação e descrição etnográficas, que resultou num experimento performático na Biblioteca Central da UFBA. Em seguida vieram os laboratórios propriamente ditos, onde cada aluno “utilizaria” a turma como matéria prima para suas investigações. A partir dos resultados dos laboratórios, a turma deveria construir coletivamente uma coreografia de dança contemporânea a ser apresentada no XIII Painel Performático da Escola de Dança (julho). Após seu laboratório, cada aluno deveria fazer um relatório sobre o experimento contendo a descrição e avaliação do mesmo e postá-lo no blog, pacto que infelizmente não cumprimos na íntegra.

De acordo com a nossa programação original, cada manhã de aula seria ocupada por um laboratório, sendo as duas primeiras horas utilizadas para o experimento propriamente dito, ficando o restante do tempo livre as discussões dos resultados. Mas alguns eventos adversos obrigaram a mudar os planos iniciais e a partir da segunda quinzena de tivemos que realizar dois laboratórios por manhã. Por azar o meu foi um deles, após ser duas vezes adiado por causa das chuvas. E como azar pouco é bobagem fiquei com o segundo tempo da manhã.

Eu, estressada com os adiamentos anteriores, sofria ao ver que o tempo estava se esgotando e a discussão do laboratório anterior continuava de vento em polpa. Faltando 90 minutos para o término da aula, não me restou outra alternativa a não ser “mostrar o falo”. Incorporei o general e conduzi meu o experimento com mãos de ferro. Este clima militar, juntamente com agitação da turma devido ao laboratório anterior resultou numa "arena de baile", onde duplas de dançarinos se "degladiavam" usando movimentos inspirados nas danças de salão. O relatório e vídeo com edição "romanceada" deste experimento foi postado aqui sob o título DISCURSOS HABITAM CORPOS.

Dezessete laboratórios depois, chegou o momento de selecionar as cenas para construir a coreografia para o Painel Performático, que de acordo com as regras, não deveria exceder 10 minutos. Como não estive presente neste momento, recebi por email o "esqueleto frankensteinco" do nosso trabalho.

Oi, pessoas!

Como hoje é o último dia para inscrição no Painel, os que estiveram presentes na aula de hoje selecionaram algumas cenas dos laboratórios que consideraram importantes para a cena coletiva e escolheram o nome do trabalho. Tudo pode sofrer alterações e vale lembrar que não há ainda uma estrutura pronta desta cena. Ficou mais ou menos assim:

Lab. de Joline

Cena - Kama Sutra/ Antrifo, Fernando, João e Diego

Cena - Manipulação/ Mayana, Victor, Ana Flávia e Joélia

Lab. de Naty Rosa

Cena - Dança de Salão/ Victor e Evie

Cena - Camisa no ombro e tecido/ André

Cena - Manipulação*/ Alana, João e Mayana

*possível interação com a de Loraine (fotos pornográficas)

Lab. de Alana

Cena - Fotografia da família/ Todos

Lab. de Thiago

Cena - Falas de impacto*/ Maria Paula, Joélia e Loraine

Cena - Casal/ Natália M. e Victor

*foi proposto que houvesse em um canto do palco uma mulher "se masturbando". Ela estaria mascarada (ou não) ou seria a projeção dela numa webcam (como Fernando havia sugerido)

Lab. de Joélia

Sugestões de cena:

- um homem com figurino de bailarino executando seqüência feminina e uma mulher com figurino de bailarina executando seqüência masculina

- mulheres vestidas de bailarino (malha masculina, etc.) com um "pênis" por dentro dessa roupa.

Lab. de Simone

Cena - execução de grande seqüência por todos com falas* num microfone (com e sem pausas).

*essas falas seriam como as de Thiago e Antrifo: 'Sou bicha mesmo!' ou 'Trepo com homem mesmo, cara!

Lab. de Mayana

Cena - Perfil de orkut/ André e Victor ou de Evie

Cena - Música de Roberta Close*/ André

*André e uma mulher (foi pensado em Mayana pela estrutura física) estariam travestidos de mulher

Lab. de João

Cena - Dança/ Todos

Lab. de Victor

Cena - Seqüência de Jazz

Lab. de Coca

Cena - Alana

*foram citadas as imagens: mulher bandeja, Branca de Neve (mulher ideal). Pensamos numa mulher num caixão-marmita (marmita no formato de caixão ou caixão feito do material de marmita: alumínio, papelão, etc).

Lab. de Naty Matos

Cena - Rave / Todos

*Foi sugerido que essa fosse a abertura onde todos estariam dançando e alguém estaria de olhos vendados e/ou outra pessoa deitada no chão com a bunda de fora.

Lab. de Maria Paula

Cena - Sheila e o Pneu/ André

Cena - Se arrumando/ Mayana

Cena - Toque no público/ Antrifo

Cena - Metade alegórica/ Naty Rosa

Cena - Meu nome é Gal/ Thiago

Lab. de André

Cena - Brincadeiras/ Todos

*foi sugerido que alguém falasse no microfone de forma natural e espontânea coisas como: 'Gostava de brincar de gude, elástico, meu tio tentou me abusar ou meu tio quis brincar de médico comigo, boneca, carrinho...' e outras pessoas estariam encenando essas "brincadeiras".

Lab. Ana Flávia

Cena - Saia invertida/ Antrifo

Outras sugestões:

- na cena da boite de abertura, antes da música para o ambiente, teriam badaladas de um relógio;

- ter um armário de onde algumas pessoas saíssem e/ou uma pessoa com vários cabides dependurados nela;

- a música de Roberta Close (para a cena de André e mulher travestidos) seria cantada à capela por alguém no microfone;

- aproveitar os depoimentos para trocas de roupas, cenários, cenas, etc;

- caso Thiago seja o homem do cabide/armário que toque um funk (que não sei a letra, mas tem tudo a ver com a coisa) enquanto ele troca de roupa para virar "Gal";

- desfile com saias ao contrário: pessoas usando calcinhas e cuecas.

O nome escolhido para o trabalho foi "Eu vou te mostrar que você não me conhece". Tem uma música de Maria Betânia com esse nome ou verso. Por favor façamos todos pesquisa para trilha do nosso trabalho.

Com espanto crescente, li e reli este email algumas vezes, tentando imaginar de que forma essa miscelânia de cenas poderiam ser costuradas para formar algo “coerente”. Duração do trabalho: 40 minutos. E pode? Claro, afinal somos 17 e se cada um apresentasse uma cena ocuparíamos 170 minutos do Painel. Assim economizamos 130 minutos do tempo dos espectadores. Argumento aceito, trabalho inscrito.

Para complicar um pouco mais optamos por usar algumas tecnologias a serem operadas pelo próprio elenco durante a cena (nada mais contenporâneo, não acham?). Cenário: quem tem isso, quem tem aquilo... vedadeiro bombardeio de mudanças a todo momento. Eu, apreciadora "da ordem e do método” a la Hercule Poirot, me sentia zonza no meio desse universo caótico da dança contemporânea.

Eis que chega o grande dia... Epa, nosso trabalho não estava constou na programação do Painel e ninguém soube explicar o por quê. Começamos bem... Marcado para as 21h, começamos às 22h30. Os 40 minutos parecem ter acontecido em cinco. FIM! Acabou? Eu sobrevivi? Puxa, e não é que conseguimos mesmo? Eba, nem consigo acreditar! Nossos professores-corujas estavam radiantes com os resultados, apesar das falhas. A turma estava exausta, mas satisfeita. Arrumamos as tralhas e às 00h30 retornávamos sãos e salvos para o aconchego dos nossos lares graças a um esquema de carona solidária!

Aprendi muita coisa neste período, até mesmo que um pouco de caos não faz (tão) mal a ninguém. Agradeço aos meus colegas e professores a oportunidade de fazer parte desse processo coletivo de criação coreográfica em dança. A versão reduzida do nosso trabalho pode ser vista no link http://www.youtube.com/watch?v=SdJzDpNdgQM.

Não percam a terceira e última parte da trilogia, brevemente em cartaz neste blog. Aguardem!