29 de abril de 2009

Somos Contemporâneos de Nosso Tempo? Parte II – Construindo uma proposta pedagógica

“O grande desafio da didática na área de dança é repensar, pesquisar e propor formas de ensino condizentes com as propostas contemporâneas de educação...O que determina a escolha metodológica – consciente ou não - de um professor de dança é o seu estar no mundo, que reflete o seu pensar e agir em sociedade sobre corpo, dança e educação”. (Isabel Marques)

Na modernidade educar significava disciplinar a subjetividade e treinar os indivíduos, concebidos e tratados como passivos e uniformes, para obter cópias perfeitas do conjunto de “verdades incontestáveis e imutáveis”, socialmente legitimado como conhecimento. Estes modelos denominados positivistas propunham uma educação reprodutora, onde o fluxo de informação se dá apenas do professor para os alunos, que devem ser provar sua capacidade de reproduzir cópias mecânicas do conhecimento transmitido em um tempo médio estipulado por especialistas. Já nas perspectivas pós-positivistas, o conhecimento passou a ser concebido como “um processo dinâmico e encarnado em sujeitos e instituições sociais em interação com seu meio vital e em permanente transformação”, onde professor experimenta o papel de articulador e promotor de atividades e se propõe a existência de saberes em lugar das verdades eternas (1).

Segundo o relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI (1996), as práticas pedagógicas devem preocupar-se em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais, os “quatro pilares do conhecimento”, que são: aprender a conhecer (abertura para o conhecimento que liberta verdadeiramente da ignorância), aprender a fazer (coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar), aprender a conviver (desafio da convivência que apresenta o respeito a todos como caminho do entendimento) e aprender a ser (papel do cidadão e objetivo de viver) (2).

Essas e outras reflexões sobre dança, educação e contemporaneidade aconteceram na disciplina Arte como Tecnologia Educacional, componente do eixo pedagógico do Curso de Licenciatura em Dança da UFBA, que cursei como aluna especial durante o ano de 2008. Foi o inicio do meu processo de estruturação de uma proposta pedagógica para as danças de salão condizente com as propostas contemporâneas de educação e em consonância com os conceitos de corpo, dança e mundo.

Em seu texto “Metodologia para o Ensino de Dança: Luxo ou Necessidade?”, Isabel Marques diz que “os avanços na área de ensino da dança no país parecem ser ignorados pela grande maioria de artistas-professores, sugerindo a crença que a experiência artística determine a habilidade de ensinar”. Argumenta ainda que a utilização inadequada da terminologia da ciência educação por grande parte dos professores de dança é um dos fatores que revela o “despreparo pedagógico destes profissionais” e propõe uma comparação “geográfica” para a compreensão dessa terminologia, onde a didática seria o “mapa do território”, as metodologias as “vias de acesso”, os procedimentos metodológicos os “meios de transporte” para se chegar a um determinado local (objetivos) e os conteúdos as “cargas” que se quer transportar (3).

Salvo as peculiaridades de cada profissional, o processo de ensino-aprendizagem das danças de salão em Salvador têm como principal conteúdo seqüências de movimentos, denominadas “PASSOS”, que são transmitidos através da imitação, seja através da observação da própria imagem no espelho, seja pela observação da “estrutura correta” dos corpos de outro casal, e apreendida pela repetição dos mesmos. É comum nomear os “passos”, o que permite sua evocação verbal, ao mesmo tempo em que gera nomenclaturas regionalizadas, algumas vezes compreendidas apenas dentro de cada escola de dança.

Considerando os quatro pilares do conhecimento anteriormente citados, o objetivo maior da minha proposta pedagógica é capacitar o indivíduo para uma prática criativa e crítica das danças sociais a dois. Concordando que os alunos devem receber do professor “conhecimentos e incentivos para que possam experimentar e criar suas próprias danças” (3), organizei os conteúdos em três módulos: percepção corporal, percepção espacial e percepção musical. Durante os exercícios provoco reflexões sobre corpo, dança e mundo, a fim de promover a reconstrução crítica destes conceitos dentro da realidade da sociedade contemporânea e do contexto das danças de salão.

Elegi os princípios norteadores da metodologia “Dança no Contexto”, desenvolvida e proposta por Isabel Marques, como base para estruturar minha proposta pedagógica, a saber: problematização, criação de uma rede de conhecimentos, transformação dos conteúdos específicos da dança e postura crítica diante do mundo. Dessa forma, tenho substituído a imitação-repetição das sequências de movimentos pela proposição de problemas, utilizando não apenas recursos visuais, mas também táteis-cinestésicos, auditivos e metafóricos.

Minha prática pedagógica continua em permanente transformação e tem sido gratificante perceber transformações criativas nas práticas e críticas nos discursos de meus alunos sobre as danças sociais a dois.

REFERÊNCIAS

1. NAJMANOVICH, Denise. Para Novas Paisagens Educativas in “O Sujeito Encarnado – Questões para Pesquisa no/do Cotidiano”. Rio de Janeiro: DP&A, 2001

2. RODRIGUES, Zuleide Blanco. Os Quatro Pilares de uma Educação pra o Século XXI e Suas Implicações na Prática Pedagógica. Disponível em http://www.educacional.com.br/articulistas/outrosEducacao_lista.asp?artigo=artigo0056. Acesso em 13/11/2008

3. MARQUES, Isabel. Metodologia para o Ensino de Dança: Luxo ou Necessidade? in “Lições de Dança nº04”. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2003.

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