5 de abril de 2009

Somos Contemporâneos de Nosso Tempo? Parte I - Buscando novas terminologias

No final do ano de 2007, ao apresentar um anteprojeto para o mestrado em dança da UFBA me deparei com a necessidade de definir o objeto “Dança de Salão”. Da minha primeira tentativa surgiu o seguinte:
“Dança de Salão (no singular) é a categoria de dança executada por casais, constituída de subcategorias, conhecidas como RITMO...”
Pedi então ao amigo Hugo Leonardo, que na época cursava o mestrado em dança, que fizesse uma revisão crítica do anteprojeto. Dentre as suas valiosas contribuições, ele sinalizou que, tal definição incluiria uma gama de outras categorias de dança, como ballet, jazz e dança flamenca onde existam casais dançando. Esse questionamento marcou o início das minhas buscas por terminologias mais adequadas às escolhas conceituais da minha proposta pedagógica em dança de salão.
Comecei experimentando algumas mudanças. A primeira foi colocar o objeto de estudo no plural, já que ele comporta “subcategorias” dentro dele. O passo seguinte foi substituir o termo “categoria” por “configuração”, mais apropriado com o pensamento contemporâneo em dança. Busquei então reconhecer as características comuns entre suas linguagens (os tais “ritmos”). Por fim, decidi delimitar o ambiente onde o objeto acontece. E foi assim cheguei à seguinte definição:
“Danças de Salão (agora no plural) é o nome pelo qual é popularmente conhecida a configuração de dança, caracterizada pela execução por casais vinculados pelos membros superiores (abraço), comunicação interpessoal codificada e transmitida através do sentido tátil-cinestésico (pressão-movimento), deslocamento espacial (trânsito) e forte relação entre o repertório musical e coreográfico, seja para fins de exibição artística ou competitiva ou de entretenimento social.”
Me pareceu bom. Será mesmo? Algo ainda me dava uma sensação de que tal definição ainda não era representativa da sociedade contemporânea brasileira em que vivemos. Busquei então compreender o contexto histórico do surgimento das danças de salão.
Nascida na França do século XV, as “danças da corte” representavam o modelo de gênero da época, surgindo como uma estratégia “socialmente correta” para aproximar social e fisicamente homens e mulheres. Sua linguagem masculinista e heteronormativa pressupõe como “natural” o homem “conduzir” a mulher na dança, que, por sua vez, reluz a sua competência do seu condutor. Os bailes, que aconteciam com muito glamour nos salões dos palácios, se constituíam em oportunidade de avaliação das “qualidades desejáveis” dos “pretendentes ao matrimônio”, como educação, gentileza, segurança, virilidade, suavidade, submissão, etc. Seis séculos depois séculos os salões de bailes migraram dos palácios para os clubes e discotecas. Nestes ambientes as gerações se misturam. O repertório musical é bastante variado. Pessoas que dançam a dois dividem espaço com outras que dançam sozinhas ou em grupo. As “leis de trânsito” foram transgredidas em trajetórias caóticas. E ao contrário do que diz Tim Maia, cada vez mais vale “dançar homem com homem e mulher com mulher”.
A partir destas observações percebi que o nome “Danças de Salão”, ainda que no plural, não mais dava conta de representar a diversidade nas formas de se relacionar a dois em nossa sociedade atual. Quais as mudanças necessárias na forma de pensar esta configuração de dança dentro do nosso contexto? Somos contemporâneos de nosso tempo? Depois de muito quebrar a cabeça, elegi o termo Danças Sociais a Dois em substituição a Danças de Salão, que defino como:
“Danças Sociais a Dois, popularmente conhecida como danças de salão, é o nome da configuração de dança caracterizada pela execução por duplas (não necessariamente um homem e uma mulher) vinculadas pelos membros superiores (abraço), comunicação interpessoal codificada e transmitida através do sentido tátil-cinestésico (pressão-movimento), deslocamento espacial (trânsito) e forte relação entre o repertório musical e coreográfico.”
Entretanto, a cada “baile” que vou tenho observado as pessoas experimentando novos acordos, como dança entre pessoas do mesmo sexo, inversão dos papéis de condutor e conduzido, dança em trio ou revezamento de duplas durante a mesma música. E vislumbro que, num futuro não muito distante, sinto que será necessidade rever meus conceitos e terminologias, afinal, o tempo não para!

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