A cada dia cresce o número de praticantes de uma forma brasileira de dançar a dois sensual, suave, fluida, cheia de giros e abraços que acontece ao som de diversas sonoridades a qual chamamos ZOUK. Os espectadores maiores de 30 anos o identificam instantaneamente como uma lambada modificada. Muitos, entretanto, disseminam a idéia de que o zouk é uma dança de origem caribenha ou ainda africana. As informações que apresento neste texto foram extraídas do anteprojeto proposto por mim ao mestrado da Escola de Dança UFBA em 2007. Foram utilizadas como fontes textos publicados na internet e depoimentos de pessoas que vivenciaram a evolução da lambada.
A maioria dos relatos refere que durante a década de 80, na região norte do Brasil, as emissoras de rádios captavam músicas caribenhas. O encontro com as músicas nortistas produziram diversas sonoridades, dentre elas os "ritmos de batida forte", posteriormente denominado LAMBADA. Como forma de dançar tudo indica que a lambada tem suas raízes no CARIMBÓ, manifestação popular região norte desde os tempos coloniais, ondes os casais dançam de frente um para o outro (sem abraço!), com movimentos onde a mulher tenta encobrir o homem com a saia e muitos giros.
Ao chegar à região nordeste, recebeu influências do forró e nas areias das praias de Porto Seguro (BA) conquistou nativos e veranistas brasileiros e estrangeiros. A lambada dessa época usava as pernas bem dobradas e era marcada lateralmente com dois movimentos para cada lado. Em 1987 tornou-se um fenômeno mundial depois que dois empresários franceses vieram ao Brasil e compraram os direitos autorais de mais de 300 músicas brasileiras. Montaram o KAOMA com músicos de qualidade e uma senhora estrutura de Marketing.
Fazendo uma analogia ao ditado popular, "quanto mais rápido se sobe mais veloz é a queda". Em 1992 a produção musical da lambada entrou em extinção, com direito até a um enterro simbólico no centro do Rio de Janeiro pelos DJs da época. Entretanto, os lambadeiros desafiaram estas previsões “fúnebres” e se disposeram a experimentar outras sonoridades para continuar dançando. Esta atitude ficou imortalizada na frase de Tio Piu, ex-diretor-artístico da Ilha dos Pescadores, famoso reduto lambadeiro carioca: "Enquanto o lambadeiro viver a lambada jamais morrerá”. Embora outros sons continuassem a ser experimentados, foi o "zouk", já conhecido dos brasileiros como "lambada francesa" o estilo musical eleito para substituir musicalmente a lambada.
ZOUK, que significa “festa” no dialeto creole, é um movimento musical nascido nas ilhas caribenhas de colonização francesa. Lá, assim como na europa e na africa, o zouk é dançado de maneira completamente diferente da nossa: colado, sem giros, muito parecido com o merengue, segundo depoimento de quem andou por essas bandas. No Brasil o zouk chegou apenas como música através das rádios. Não há indícios da influência do zouk-dança do caribe na forma brasileira de dançar zouk.
Desde então nossa velha e querida lambada não parou de se reinventar. Conservou sua forma rítmica (três movimentos executados a cada dois tempos do compasso) mas adquiriu verticalidade no seu deslocamento, fluidez e suavidade, privilegiando o contato com o parceiro. Uma nova geração de dançarinos não-lambadeiros tem trazido em seus corpos influências do hiphop dentre outras, abrindo possibilidades para novas mutações.
A atual geração de lambazoukeiros brasileiros parece ter herdado a disposição em continuar experimentando e misturando sonoridades. Com o advento da tecnologia eletro-acústica, a batida do zouk tem sido inserida nas mais diversas sonoridades por uma geração de DJs-dançarinos, gerando as mais inusitadas misturas. Para essa tribo, zouk designa uma diversidade musical que parece ter em comum apenas a capacidade de desencadear a vontade de dançar.
Diante dessas informações, como denominar essa forma brasileira de dançar a dois: lambada, zouk ou lambazouk? Encontrei nas palavras de Willian Shakespeare o meu melhor argumento: “Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob outra designação não teria igual perfume?” Portanto, mais do que a defesa de um nome, devemos valorizar o conteúdo desse "produto nacional" da cultura popular brasileira.
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