“Os passos que compõem cada tipo de dança são, eles mesmos, um registro da sua história, o que significa dizer que também pertencem a um fluxo de transformações. Não sendo, portanto, passos puros, é a história de seus processos de hibridação que aparece quando o corpo dança.” (Vagner Rodrigues).
Este ano a dança de salão comemora 200 anos de sua chegada ao Brasil juntamente com outros hábitos sociais da Côrte Portuguesa. A seguir apresento um breve resumo do seu processo de evolução.
O nome DANÇA DE SALÃO consagrou-se na cultura brasileira para designar a configuração de dança executada por casais “abraçados” com fins de entretenimento social. O termo é a tradução de "Ballroom Dance", que embora designe também as danças com fins recreativos, hoje é praticamente sinônimo das danças de competição. Eu considero quatro características para definir DANÇA DE SALÃO: a execução a dois, o abraço, o deslocamento espacial (trânsito) e a comunicação entre o par codificada e transmitida através do sentido tátil-cinestésico (pressão e movimento), permitindo que a montagem dos movimentos em seqüências aconteça sem a necessidade de combinação prévia.
Originária nos bailes das cortes reais européias, as “danças da côrte” faziam parte da educação da nobreza e ganharam evidenciam na côrte do Rei Luiz XIV na França. O MINUETO é considerado a primeira dança de salão, apesar do abraço entre o par ter surgido somente três séculos depois, em Paris, com a VALSA. Supõe-se que o abraço lateral venha do fato que na época os soldados carregavam a espada no lado esquerdo. A postura adotada era clássica, corpo ereto e com o torso fixo como no ballet.
A cidade do Rio de Janeiro é considerada berço da dança de salão no Brasil. Foi ali que sua prática se popularizou rapidamente, tendo muitas de suas “regras de etiqueta” transgredidas. Por volta de 1837 começou-se a dançar valsa e já em 1870, influenciado pelo lundu e outras manifestações populares, surgia o MAXIXE, considerada a primeira dança de salão genuinamente brasileira. Por seu erotismo explícito nos corpos colados, pernas entrelaçadas e movimentos circulares de quadril ficou historicamente conhecida como “a dança excomungada”. Rejeitada pela elite social da época, desapareceu na sua forma original, mas marcou para sempre a forma brasileira de dançar a dois.
O advento do Rock nas décadas de 50-60 trouxe importantes mudanças no comportamento da sociedade brasileira. As danças de salão assistiu a “abertura” e “ruptura” de um dos seus principais símbolos: o abraço. Este fato possibilitou novas movimentações a dois, como giros com troca de posição e enrosques de braços, criando a necessidade de novos códigos de comunicação entre o par.
É através do contato com outras danças que surgem diversas formas de se dançar abraçado , às quais chamamos RITMOS, que muitas vezes recebe o nome do gênero musical a elas relacionado (tango, bolero, forró). O samba de gafieira, o sambarock, o forró e o lambazouk são exemplos de danças de salão brasileiras.
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